terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

1986

Hoje o sol brilhou mais forte;
Olho a janela e lembro de uma manhã de 1986.
O céu azul de 86, o domingo de férias,
A manhã quente e sem barulhos de 1986.

Parece que vou ligar minha TV na sala,
Minha Telefunken de 14 polegadas,
Para assistir à Fórmula 1
E ver o Piquet ganhar e o Senna chegar em terceiro.

Depois vou subir no andar de cima do prédio,
Comer a macarronada da vó e assistir ao Silvio Santos
- Ela adorava o Silvio... E quem sabe, de noite,
Tia Cida aluga um VHS pra gente ver, já que só ela tem videocassete.

E, nesta manhã de 1986,
Vou sentar à mesa e sujar a toalha azul
Ao derramar guaraná Brahma sem querer...
Mas mamãe não liga, porque sou criança ainda.

E papai hoje está em casa,
E vai sentar no sofá de vime comigo e me mostrar
Aqueles livros todos que ficam no alto e não posso pegar sempre
E me contar do Cometa Halley, que vai passar por aqui em breve.

Descer na padaria da esquina e comprar um sorvete Yopa,
Porque faz muito calor aqui em 1986,
E jogar bola no estacionamento da frente,
E jogar Atari até de madrugada.

E o Sarney vai aparecer na TV, anunciando outro plano
E depois mudar de novo o nome da moeda,
Mas tudo bem, depois vou ver futebol,
Com aquela seleção maravilhosa de 1986.

E olhar na janela para ver o movimento,
Meninas nas ruas com lenços no pescoço,
E roupas coloridas, e calças largas
Voais da moda de 1986.

Mas a vida é de uma mão só:
O Senna morreu, a Vó morreu, o Zico já não joga...
E os lenços nas ruas, e as roupas coloridas
Já nem lembram uma moda que não existe mais.

Hoje o mundo é de barulho, é de internet,
É de black blocks e não de Diretas já.
É de carrões importados e coreanos
E não dos Fuscas e Brasílias e Escorts de 86.

Hoje as fotos não existem senão em pixels,
Que só vemos em telas de cristal líquido:
Onde foi parar aquele clicar e ficar na angústia,
Esperando para revelar e ver se ficou bom?

Onde foram as cores infinitas das fotografias,
As cores bregas e berrantes das camisetas?
Onde foram os encartes das revistas, os jornais impressos
As paredes cor cáqui e as geladeiras vermelhas?

Não foram; ficaram. Em 1986.
Nunca saíram de lá; nós é que saímos,
Para continuar a vida e a evolução das coisas,
Nesta marcha sempre em frente de um trem chamado Tempo.

As Intenções

Procurei não te ver nunca mais,
               Saí do seu ambiente,
               Deixei de frequentar os lugares que frequentavas,
               E achei que tinha obtido êxito por quase uma vida.
Mas não consegui. Veio o destino, o mestre das coincidências,
Resgatar em mim a lembrança doce dos teus olhos.

Procurei não me envolver,
               Não dar atenção, não me importar com o que dizias;
               Procurei entender que já não eras mais a mesma, nem eu tampouco,
               E achei que estava indo muito bem.
Mas fui um fracasso em me controlar ao te sentir
Tão indefesa e tão precisando das minhas boas palavras.

Procurei me aproveitar de uma situação
               Em que estavas frágil e carente,
               Para também me curar das minhas fraquezas e carências,
               Para fortalecer-me sem me importar contigo.
Mas me foi impossível desde o início, pois percebi
O quanto já me eras mais importante do que eu mesmo.

Procurei, então, te fazer sofrer,
               O que seria fácil, pois já sofrias deveras sem mim...
               De forma inconsciente, tentei te decepcionar a ponto
               De desistires de mim e não estragar a tua vida.
Mas tudo o que consegui foi te fazer mais feliz
Neste turbilhão de infelicidade que rondava os teus dias.

               Procurei não mais te ver e tive um vazio no peito por muito tempo.
               Procurei não entrar na tua vida e terminei por arrombar as portas da tua alma.
               Procurei te deixar com tua vida e tudo o que consegui foi dar a nós a esperança de uma vida nova.
               Procurei te fazer sofrer e tudo o que consegui foi te fazer feliz. E a mim, mais ainda.

Procurei em vão. Tudo o que consegui foi te amar cada vez mais.              
Pois, então, que assim seja.

Tudo ao seu Tempo

I- Passado


Te quero hoje como há vinte anos.
                    Como se nunca tivéssemos nos separado;
                    Como se fosse possível voltar no tempo e corrigir
                    Todas as ocasiões em que não me mostrei,
                    Todas as vezes em que me calei,
                    Todos os beijos que não roubei por medo.

Te quero hoje como nunca te quis.
                    Como nunca imaginei que pudesse querer alguém.
                    Como nunca ousei querer,
                    Na minha tola experiência de adolescente,
                    No meu infantil querer de faz-de-conta,
                    Naquela minha vida de menino mais novo.

Te quero como sempre pensei em querer.
                    Como sempre desejei, como sempre quis querer.
                    Te quero como não posso querer alguém que já lhe tem quem queira
                    Mas te quero ainda assim, pois sei
                    Que ninguém há de querer-te tanto nem tão bem quanto eu.
               
Te quero minha. Te quero aqui.
                    Quero a ti como quero a mim; preciso de ti
                    Quero teus beijos, teu corpo, teu amor
                    Quero teus pensamentos em mim
                    Pesando e repousando sobre mim
                    Leves como o peso dos teus olhos da cor da água.
                                                   I tuoi occhi di colore dall acqua.
                    Quero ser teu. Enfim. Finalmente. Sem mais demora.
                    Quero finalmente te mostrar
                    Que se antes eu era um garoto que jamais te mereceria
                    Hoje sou um homem que nunca te mereceu tanto.


II - Presente


soneto em verso:

Há, no teu olhar, um universo;
Há um oceano de beleza e de ternura
Que não consigo expressar em prosa ou verso:
Há o Amor nos teus olhos, em forma pura.

Há, no teu olhar, tanta doçura
Que me ilumina de azul e me põe imerso
Em anseios de amor; e se figura
Topázio no qual perco-me disperso.

Há, nos teus olhos, épocas distantes,
Anos passados, frescos na lembrança;
Há lembranças de sonhos e instantes

De um tempo em que o mundo a nós servia
De berço de encontros e esperança
De anseios e medos, e de alegria.

soneto em prosa:

Não, não é o poema que é belo;
Ele não é belo por minha causa.
Ele ser bonito não é mérito meu.
É seu.

Você é especial. Você é linda.
E nem faz idéia do quanto...
A beleza não está no poema:
Está em você.

O poema não é nada; é tão somente
A minha tentativa de mostrar ao papel
Toda a beleza que já há em você...

O poema é somente uma sombra:
Você é a luz, você é o brilho.
Você é a verdadeira poesia.


III - Futuro

                                        Vai dar certo? Não vai? Não sei.
                                        As nossas vidas nos dirão. O resto
                                        Não sei. Simplesmente não sei.

                    Vou deixar que tudo aconteça, vou sentir você a cada dia
                    A cada letra, a cada palavra, a cada respiração...
                    Não vou mais te deixar sair daqui de dentro.

Vida! Até que enfim serás boa comigo!
Até que enfim serei dela, e serei feliz!
Nada mais peço, nada mais mereço; é tudo o que quero.

                    Venha, Anjo, Venha ser minha.
                    Acomode em mim estes cristais que tens,
                    Nos olhos, a acalmar essa alma vã.
                    Essa 
                             Alma 
                                        Vã.
.




domingo, 1 de fevereiro de 2015

Nesta casa

Quero nesta casa
O tempero do riso dos amigos
O aroma das brincadeiras das crianças
O paladar das noites de amor.

Quero cozinhar com alegria
Com pitadas de satisfação
Com doses bem servidas de carinho
E colheres cheias de felicidade.

Nesta casa se mora feliz.
Neste ambiente se ama e se quer bem.
Nesta morada cuidamos uns dos outros.
Nesta casa se vive em paz.