segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Despedida


Não quero mais te ver porque não te mereço;
Antes fosses tu uma vadia.
Quiçá, assim, não lhe guardaria o menor apreço
E talvez, nem mesmo conhecer-te-ia;
Não era necessário nossas vidas cruzarem-se assim
- Me és um mal, uma sífilis, uma enfermidade
Justamente porque és boa; e há algo em mim
Que – isto eu sei – te amará por toda a eternidade.

Não quero mais te ver porque já te vi demais,
Eis o meu mais ignominioso pecado:
E esta purificação não me virá jamais.
Havia tantas que eu poderia ter amado!...
E tantas bocas que poderiam ser minhas
E eu poderia ter sido de muitas, e sido feliz –
Mas, não: ao invés de me entregar às paixões tolas e mesquinhas,
Deus me entregou às sombras, me entregou a ti, assim o quis.

Vai embora. Desaparece daqui, Some.
Não volte mais; me deixe como quem se desfaz,
Na porta alheia, de um cão mendigo e sem nome.
Tal é como deve ser; e até me apraz
Que o faças com sangue-frio e crueldade
Pois o ódio sufocará o amor – eis minha salvação:
Melhor um ódio que se nutre da verdade
Do que um amor que se mortifica na ilusão.

Tiago Bianchini - 2005

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