Não
há ninguém aqui.
Este é um aglomerado de carne
vermelha e ossos, e alguns já em decomposição; uma pequena porção de
natureza-morta a se mover na sombra.
Não
há ninguém, já disse.
Sessenta e oito quilos de restos
orgânicos, à espera dos vermes; isto que vês não é nada, apenas um albergue de
sentimentos menos nobres – inveja, cobiça, derrotismo, idealismo – que não
tiveram pousada nos corpos mais evoluídos.
Não
há ninguém.
E, talvez, “ninguém” ainda seja
muito; talvez as teias de aranha abandonadas escondam a imundície onde um dia
viveu uma alma, e quem sabe, até, por uma noite ou outra, pernoitou o amor.
Não,
não há mais ninguém.
Sou um resto embolorado e fétido
de indivíduo; a casca que a beleza não quis para si. Vês não mais que um
refúgio abandonado de sensações medíocres, de destinos inúteis.
Eis-me,
o bagaço das coisas torpes, o ridículo esconderijo da infâmia; Eis a mim,
mancha da Criação Humana, que insiste em incomodar apesar dos olhares, a causa
indireta dos malefícios do Mundo – e sabedor disso. Eis-me: tudo o que Deus
repudiou na Natureza.
Tiago Bianchini - 2000
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