sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Três pessoinhas diferentes



I.
Meu pé de jabuticaba
Tá dando jabuticaba.
Queria que desse o quê
Que não fosse jabuticaba?...

Meu pé de jabuticaba
Tá dando jabuticaba.
Só essa jabuticaba?
Quero mais jabuticaba!

Meu pé de jabuticaba
Tá dando jabuticaba.
Podia ter dado nada:
Hoje deu jabuticaba.

II.
Três pessoinhas na bifurcação da vida:

- De novo? Não quero mais mudar!
- Só isso? Muito pouco pra mudar!
- Finalmente! É chegada a hora de mudar!
.

sábado, 6 de dezembro de 2014

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

One of Us

(Ode à ironia)

         A música soava dentro do seu ouvido, tão melancólica quanto ele. A ambos – a ele e à música – agradavam a voz sussurrante de Joan Osbourne. Há músicas que gostam dos seus intérpretes; na maioria das vezes, elas não os suportam.
Veio o metrô. Seis pessoas aguardando na porta. Ele e mais cinco. Seis. Ao todo, meia-dúzia de almas à espera de que as portas se abrissem, tomando sempre cuidado, é claro, com o vão entre o trem e a plataforma. As portas se abriram. Muita gente atrapalhando a saída dos que não queriam mais prosseguir; a mesma muita gente atrapalhando, de novo, o embarque dos que queriam sair dali. Ele só queria isso, mesmo: sair dali. Saíram dezenove pessoas. Dezenove. Havia, agora, dezenove micro-espaços vazios dentro daquele metrô. Mas entraram apenas cinco. Não havia mais espaço para ele. Todos os dezenove micro-espaços foram preenchidos por cinco micro-almas. Tentou forçar a entrada; o sujeito que estava na porta decidiu que aqueles eram seus micro-espaços e que não abriria mão deles. E o sujeito da porta era mais forte.
Resignou-se. Tudo bem; nem queria ir naquele metrô lotado, afinal. Aguardaria o próximo. What if God was one of us? Just a stranger on the bus? Não queria pensar mais nisso. São só três minutos entre um trem e outro.
Oito minutos depois, as portas do próximo trem se abriram. Desta vez, ele era o primeiro da fila; entrou – ou foi “entrado” pelos que o empurravam – e foi para o meio do corredor. Iria descer apenas na última estação; o melhor era mesmo ficar ali, longe do tumulto das portas. “O cientista imbecil que disse que dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço com certeza nunca precisou pegar metrô em horário de pico”, pensou.
À sua frente, nos bancos reservados, havia um casal sentado. Ambos não aparentavam mais de vinte anos; falavam alto, riam alto e, pelo que ele pôde perceber, estavam achando que a conversa era sensacional, pois faziam questão de que todos no vagão a ouvissem. O banco era reservado para idosos, gestantes, pessoas com deficiência ou com crianças de colo. Como já foi dito, ainda demoraria algumas décadas para que pudessem ser classificados como idosos. Também não conseguiu perceber nenhuma criança, fosse no colo, fosse no ventre da moça. Procurou em vão por alguma deficiência; tudo o que conseguiu encontrar foi um idoso em pé, ao seu lado, lutando contra o aperto dos outros usuários. Conformou-se: “Talvez o aviso de uso preferencial também contemple deficiência mental, e, neste caso, a questão fica explicada”.
O trem do metrô vai enchendo e esvaziando inúmeras vezes. Numa destas, ele consegue sentar-se ao lado de um rapaz. O rapaz senta-se com desleixo e suas pernas abertas atrapalham; “Cidadão, ocupe só a sua parte no assento”, pensa.
Mas apenas pensa. Tudo o que ele faz na vida é pensar. Já discutiu com líderes do Bloco Comunista, já resolveu questões diplomáticas no Oriente Médio. Já teve as mais belas atrizes de Hollywood, nuas, na sua cama, a aguardá-lo. Tudo nos seus pensamentos. Já foi ouvido e respeitado, já foi carismático e engraçado, já foi sedutor e misterioso. Tudo, tudo dentro dos seus pensamentos, ocupando micro-espaços como num metrô.
Resolve que vai ler. Pega um livro da mochila, abre na página marcada. É Ulysses, de James Joyce. Um longo dia de mil e trezentas folhas. O rapaz ao seu lado fala alguma coisa; tudo o que ele ouve é: “Apenas um desajeitado como qualquer um de nós, tentando fazer seu caminho para casa”. Gosta desta música. Hoje decidiu que irá escutá-la, e somente a ela, a manhã inteira. Yeah, God is good.
O rapaz tenta novamente; desta vez, entre o fim e o recomeço da mesma música:
- Olha aí, lendo Ulysses! Gente que pega trem não costuma ler nem horóscopo!...
Não diz nada. Apenas retribui o sorriso que o rapaz lhe concedeu. “Você nunca vê ninguém lendo Ulysses, e, quando vê, tenta atrapalhar”, pensa. Mas só pensa.
- Pois continue assim! O mundo precisa de mais gênios humildes! Hoje em dia somos poucos… - o rapaz fala e o encara, como a se certificar que ele entendeu a piada.
Devolve o olhar, desta vez carregado de uma dupla indignação: a primeira, pelo fato do rapaz ter a audácia de imaginar que ele não entenderia uma frase tão primária; a segunda, por achar que, ao entende-la, a apreciaria. Voltou ao seu livro. O rapaz também:
- Sabia que Joyce é uma das leituras mais difíceis que existe? Ele é cheio de citações veladas, de referências ocultas a obras anteriores... Sabia que é tão difícil que existem até livros que ensinam a ler Ulysses?
Olhou em volta; talvez tivesse algum outro banco vazio. Um banco com uma senhorinha cochilando, que lhe daria a paz necessária para continuar a leitura. Mas – droga! – não havia. Pensou em se levantar e sair na próxima estação; poderia entrar no vagão do lado, ou mesmo na porta do lado, e continuar sua viagem em pé. Mas seria difícil segurar o livro. Suspirou fundo e proferiu suas primeiras palavras no dia, esperando de coração que já fossem, também, as últimas:
- Eu não estou lendo, não. Só estou vendo as figuras.
O rapaz olhou o livro novamente. Não havia figuras. Percebeu que era a deixa para ficar calado.
Levantou-se pouco antes do trem parar na última estação. Havia uma senhora sentada à sua frente. A senhora levantou-se e, mesmo não havendo espaço, forçou para ficar entre ele e a porta, para descer primeiro. Era uma senhora baixa, um tanto obesa, de chinelos de dedo e saia puída, com uma blusa de lã. Jamais teria sido a primeira em qualquer coisa que fosse: não foi a primeira aluna do colégio, não foi a primeira namorada do seu finado marido, não foi a primeira a ser escolhida para o baile de fim de ano. Hoje ela deve ter se levantado com o firme propósito de ser a primeira em alguma cosia, nem que fosse a descer do trem. Ela tinha que estar na frente, em alguma hora da vida! “Ok, minha senhora, eu deixo a senhora sair primeiro. Todos vão descer, esta é a última estação... Não dava para aguardar sentada mais uns dez segundos? A senhora perderia dez segundos mas não precisaria empurrar ninguém. Mas, ok, pode sair”.
Não, não dava para aguardar nem mesmo dez segundos. Ela se levantou do banco – um espaço que já era dela e só dela – e foi lutar pelos micro-espaços da área das portas. Nada de dez segundos. Nem esses dez míseros segundos ela estava disposta a perder hoje. Hoje ela seria a campeã de sair primeiro do trem, custasse o que custasse. And would you want to see, if seeing mean that you would have to believe in things like heaven and Jesus and the saints, and all the prophets? Ah, Joan Osbourne!... Como te invejo por não precisar pegar trens! Ah, Deus! Como deve ser bom chegar num avião celestial!
Na saída da estação há a escada tradicional e a escada rolante. Na escada rolante existe uma regra: as pessoas à direita podem ficar paradas, apenas esperando a própria escada fazer o seu papel, que é de rolar de um piso ao outro, levando as pessoas que estão no andar de baixo até o andar de cima. As pessoas à esquerda estão com pressa: aproveitam a ajuda da escada rolante para subir a escada usando as próprias pernas; assim potencializam os serviços das pernas e da escada. E ganham, em média, dez segundos. Mais fácil do que empurrar os outros para sair do trem.
Mas, nesta escada, havia um novo visitante que achava que tanto à esquerda quanto à direita deve-se ficar esperando a escada subir. Ainda não havia lido todo o regulamento nem havia compreendido as regras obscuras das estações, regras que não são escritas, mas tacitamente cumpridas. Era um velho de roupas rasgadas, que gritava com todos os outros usuários do sistema; gritava coisas impossíveis de serem compreendidas entre os versos que antecediam o refrão. “Yeah, God is great, yeah, God is good.”
Não ligou. Não estava com pressa; o velho que gritasse o quanto quisesse, o velho que ficasse parado na escada, o velho que fosse ao diabo. Só queria sair logo de debaixo da terra, poder ver o sol, poder atravessar a rua em frente ao metrô; poder seguir a sua vida, enfim. O velho que se dane.
Mas o velho não queria se danar; o velho queria simplesmente incomodar os transeuntes, como se estes fossem culpados pela poluição das cidades, a crucificação de Cristo ou o aquecimento global. O velho vociferava e era possível escutar, entre o fim do refrão e o solo de guitarra, um ou outro palavrão.
Pensou que o velho fosse um destes pregadores que ficaram senilmente debilitados depois de tanta pregação inútil. O velho teria se tornado um louco que acha que gritar sobre a Bíblia nas ruas fará uma grande revolução cristã no universo, ou, pelo menos, que desta forma ele conseguiria barganhar um lugarzinho no céu. Um micro-espaço celestial.
Então ele deixaria o velho gritando à sua frente, até acabar o curso da escada rolante, e simplesmente desviaria do velho ao emergir na calçada. O velho ficaria por lá, gritando coisas como “Yeah, God is great; yeah, God is good”, mesmo que nem conhecesse a música. E ele seguiria com o resto das frases, if you were faced with him in all his glory? What would you ask if you had just one question?
Mas o velho não era um senil religioso. O velho tinha uma arma e começou a atirar a esmo.
A bala poderia ter atingido a senhora obesa, caso ele tivesse sido deselegante e saído antes dela. A bala poderia ter atingido o sujeito forte da estação de origem. A bala poderia ter atingido a parede da loja, caso ele não tivesse sido atrapalhado na escada rolante. Mas, por uma questão que pode ser de oito minutos ou dez segundos, dependendo do ponto de vista de quem está contando a história, a bala acabou atingindo seu crânio pelo micro-espaço da fenestração temporal, destruindo, ao mesmo tempo, o fone de ouvido esquerdo, o seu próprio crânio, o seu próprio cérebro e o final da estrofe mais bonita de Joan Osbourne: Trying to make his way home. Ele caiu sem cerimônia sobre uma poça d’água perto da guia; seu sangue desenhando fractais modulantes dentro da água suja. Seus olhos não chegaram a se fechar, e ele pode sentir os restos do impulso elétrico que ainda tentava dar curtos-circuitos nos restos do cérebro; sua pálpebra a tentar pulsar sobre o azul da íris.
Just trying to make his way home, back up to heaven all alone.





sábado, 29 de novembro de 2014

Pasárgada Revisitada

Havia feito este poema para ela. A ideia já se tornou tão irreal, tão absurda,  que nem me importo em postar aqui...


                    Meu amor está em Tucson,                                                                                                                     Vou me embora para Tucson:
                    Tu, que sabes como sou,                                                                                                                                     Tu, que sonhas como eu
                    Tu, que aceitas meus defeitos,                                                                                                     Tu, que sangras minhas mágoas
                    Arizona, here I go!                                                                                                                                            Tu, que sentes que sou teu.

                    Lá, não tenho mordomias                                                                                                                   Lá tenho a mulher que eu quero,
                    Nem sou amigo do Rei;                                                                                                                                  E a cama me importa pouco;
                    Mas amo lá uma prenda,                                                                                                                              Lá eu tenho quem mais amo
                    Amo tanto, que nem sei...                                                                                                                            E amo, e amo como louco!...

                    Se aqui eu não sou feliz,                                                                                                                                          Mas é vazia sua cama;
                    Lá não serei jamais triste,                                                                                                                                      Talvez seja esta a sina
                    Pois lá tenho quem me diz                                                                                                                              De todo mortal que ama...

                    Que o amor por lá existe;                                                                                                                                            Meu amor é brisa fina
                    E sem fazer qualquer chiste,                                                                                                                           Que dia e noite te chama:
                    Dar-me-á o que sempre quis.                                                                                                                                                                   Divina.


Não deveria mais pensar nisso. Não penso, juro. Virou passado. 
Mas a estrutura e delicadeza dos sonetinhos, as trovinhas infantis de criança que vai para o parque e, principalmente, a homenagem ao Bandeira valem que seja publicado. Como eu sempre digo: ninguém lê, nem mesmo ela irá ler (não que me importe...).

Meu Amor está alhures,
Quanto mais longe, melhor:
Já não quero aquela prenda...
Arizona, nevermore!

Lá não há reis ou rainhas,
Lá não poderei viver:
Lá não tenho mordomias
Lá não tenho o que fazer.

Prefiro ficar aqui:
Outro amor um dia chega
Me dá um beijo e sorri!...

Meu amor não mais me cega:
Ah, meu anjo, minha nêga!
Como ainda espero a ti!...


Estou ficando piegas demais. Ainda bem que parei de fazer poemas.

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

A Vó Maria



O tempo passa para todos, com a sua implacável indiferença...
Lembro das ruas perto da casa da vó, que a gente subia correndo quando ia visita-la (mas não correndo muito na frente, pra não se perder). As lojas e casas antigas, a padaria na esquina, os muros de cimento chapiscado.
Tudo lembrava passado, tudo lembrava dias de sol. Lembrava infância.
E hoje, quando vejo os primos, é tão difícil entender como pôde ser isso!... Uns casaram, outros têm filhos, outros já casaram de novo!... Para onde foram aqueles dias, aqueles dias de sol, brincando no quintal da vó, tomando cuidado para que a bola não batesse nas flores...
Ah, as flores da vó!...
E, de repente, parece que tudo ainda está ali: que amanhã vai fazer sol e calor, e que a gente vai lá na vó brincar com os primos e primas, correndo pelo corredor e subindo na mureta do poço, se sujando no chão de cimento quebrado... E que a vó vai aparecer na porta da cozinha, pedindo para que a gente venha almoçar e que pare de bagunça (porque, às vezes, nós merecemos uma bronca mesmo).
E a gente vai se sentar em volta da mesa, naquela cozinha enorme, com aquela vó enorme (sim, porque nós éramos muito pequenos ainda...) e comer cantando, atrapalhados pelos latidos do Toquinho, o cachorro da tia que morava na casa ao lado.
Hoje eu olho para os filhos dos primos, para os bisnetos todos da vó, e fico imaginando quem os chamará para comer, quem irá ralhar quando eles sujarem a roupa do varal, quem os porá para dentro porque vai chover... Eu os vejo brincar, correr, reencontrar os outros primos que moram longe, e fico pensando se não posso correr com eles também, “vamos brincar, vem me pegar, tá com você!” 
Aquela casa minúscula, no fundo do quintal, às vezes escura, mas cheia de vida, já não vai mais me levar ao passado. Ao tempo que eu podia abraçar a vó e tomar café e lembrar que era criança. Ao tempo em que a gente botava grãozinhos de feijão no algodão, prá umedecer e ver brotar a vida. (Ah, se a gente pudesse fazer brotar a vida de quem amamos tal qual um feijãozinho, só com um pouco de algodão e água!...)

E, apesar de saber do sofrimento da vó nos últimos tempos, apesar de saber que ela finalmente vai poder descansar, choramos todos, por saber que ali está o destino de cada um de nós, por saber que assim é, que não há dias de sol nem grãos de feijão que resistam ao tempo, ah, o tempo, esse trem que passa, inexorável e indiferente.

           
Vó Maria nos deixou em 9 de julho de 2013, quando, então, lhe fiz este pequeno texto em homenagem...

Palavras Cruzadas 03

       M U D A N D O . A . C A D A . D I A
       e m i s ã e     g   o s e o   e n o 
           a   o s q   o   m   s     p v
       i d   c   t u   r   o s t m   o e q
       m i v o m a e   a     ú e e   i n u 
       p a i i e s         p p   n   s t a
       o   r s   , d   p   u l q o     e l  
       r e á a i   e   e   d i u s   q i   
       t n   s m e v   r   e c e ,   u   e 
       o t e   p u e   c   s a       e u u  
         e m q o       e   t s s m     m    
       c n   u r a s   b   e , ó e   d   d 
       o d q e t p e   e             e n e 
       m e u   o e r   s   n o p d   s o i
         r e m ; n         ã s o e   i v  
       o á   e   a r   o   o   d s   s o o   
         s e     s e         c e t   t     
       q . n f     l   q   p h   r   i m n 
       u . t a   r e   u   e a t u     u o 
       e . e z   e v   e   r m e í   d n m 
           n e   l a       c a   s   e d e  
       p   d s   e d   t   e d q s     o    
       e   e ,   v o   e   b o u e   t , d  
       n   r     o .       e s e     e   e 
       s   á q         d   r , r d     r 
       a   s u         i       e e   e e "  
       s   . a         g     a r     n p m  
       ;     n         o         u   t l i  
             d         :     a b m   e e n
             o               t e a   n t h 
                             e m     d o a 
             f               n ? v   e
             a               ç   e   r d v
             z               ã   z   , e i
             e               o   .       d
             s                   .     a a
             ;                   .     l " 
                                       e .
                                       g 
                                       r 
                                       i 
                                       a 
                                       s  
                                       ,      

Palavras Cruzadas 02



A S . C O I S A S . J A M A I S . D E V E R I A M . S E R . A S S I M 
l i   a u n e s o   á s a i n a   e s e   e m s e   o   e   h e e r o 
g n   d t d i s p       s n d b   s t n q s p   r   u e i   ,     i s 
o t   a r a   i r   m c   d a e   ç e h u t e c e     s n     e e a t 
  o     o   q m a   e o a a   s   a   a a a r o c   o t a   s u u   r 
m     v   q u   n     i i   q       a   n r f i e     a r   e     c a 
u n   e v u e c d   r s n q u q   d r a d á e s d   m r e     p p o n 
d o   n e e   o o   e a d u e u   o   t o   i a o   e e i   e u u n d 
o     t n   p m     s s a e   e     d é   a ç s r   s i     u d d t o 
u a   o t d o o d   i       n     p e   n p õ   a   m   c     e e i   
: r     o e s   e   g q s n ã t   e   m o e e r s   o s o   p s s g o 
  .   q     s s     n u e ã o o   d s i s n s e       e m   u s s o   
      u - l o e c   e e i o   d   e a m   a , a d   q m     d e e , c 
      e   o   n á   i       q a   s n , d s   l o   u p m   e       a 
        o n t t       t q p u s   t t   e   m m s   e r i   s t t i m 
      m u g e e a   a e u o e     a a s s o a e       e n   s e e r i 
      e   e   s t     n e s i e   l   e p   i n n   s , h   e     i n 
        b   f   é   n h   s r s   , o j i q s t o   e   a     e m a h 
      v r n a o     ã o v a a t     u a r u   e s   m a     t n o   o 
      i i ã z s a   o   o   s ã   s   s m e n   s   p o d   e s s à   
      s s o e   í     g c o   o   a d   o   a b o   r   a     i t   q 
      i a   r v .   c r ê u f     i e m s d d e s   e t m   c n r s u 
      t   t   e     o a   v a a   a u i   e a l       e a   o a a u e 
      a - e s n     n v b i z q     s n d v : a a   e u     n r r a   
            e t     s a e - ê u   d a h e e   s n   s   o   v       t 
      v v a n o     e d m l - i   a   a   m   , s   t l u   e a o f e 
      e e l t s     g o   a l ,     n , t o     e   e a     n     r   
      m m c i       u   s s o     c ã   o s     i   v d r   c v c e t 
          a r       i e a , ; à   a o   d       o   e o e   e e a n r 
      d d n -       r m b         s     a v     s       i   r r m t a 
      e i c m           e     s   c c   s a         a o n   ! d i e z 
        z e e       t m       u   a o     l     e   q u a   . a n ,   
      l e , ,       e i q     a   ! m   a o         u   r   . d h   a 
      o r             n u           b   s r     p   i n e   . e o     
      n -           d h e     e     i     i     r   , ã i     ! !   m 
      g m           i a       s     n   a z     e     o         .   i 
      e e           z s e     p     a   r a     o     . s       .   m 
      ; :           e   l     e         m r     c       o       .   ! 
                    r m a     r     c   a ,     u       z           . 
                      e s     a     o   d       p       i           . 
                      m       .     n   u       a       n           . 
                      ó e           t   r       ç       h             
                      r s           i   a       õ       o             
                      i t           g   s       e       .             
                      a ã           o   ,       s                     
                      s o           .          .                     
                      .                                               
                      . a                                             
                      . q                                             
                        u                                             
                        i                                             

Palavras Cruzadas 01

          N A D A . É . O . Q U E . P A R E C E . S E R 
          o v i p       u   u m     o q a n e     a s e  
          s e a ó   a   t   a   v   i u s t l a   b c i 
          s s s s   s   r   n d e   s i t r e c   e r s 
          a s       s   o   d i n       e a b a   d a . 
          s a p o   i   s   o a c   q t j n r b   o v 
              a u   m       ,   e   u e a d a a   r o 
          v a s t       d     a r   e n n o n n   i s 
          i o s r   a   i   e n e     t d   d d   a 
          d s a o       a   n t m   v a o n o o     e 
          a   m ,   v   s   t e o   e r   a   ,   é m 
          s a ;     i       ã s s   n e s s m 
            c   a   d   v   o       h i o   i e   o R 
          e o u p   a   i   , d o   a   b e n n     e 
          s n m ó   ,   r     o u     m r n h f   q i 
          t t   s       ã   c       o e e t a i   u s 
          ã e a     a   o   o f p         r s m   e . 
          o c p o   f   ,   n i e   i m o a   , 
            i ó u   i       s m r   n a s n í     t 
          v m s t   n   m   e - d   f n   h n s   r 
          i e   r   a   a   g d e   e t e a f u   a 
          r n o o   l   i   u o r   r e s s i c   n 
          a t u .   :   s   i - e   n r c   m u   s 
          d o t             r m m   o   o d a m   f 
          a s r         e   e u o   ; e m a s b   o
          s   o             m n s     m b     i   r 
            d ,         m   o d     e   r m o n   m 
          d o           a   s o o   s p o o p d   a 
          o             i     ,     t é s r o o  
            d           s   f   j   o     t r     e 
          a i               u   o   u   d e t o   s 
          v a           i   g   g       a , u u   c 
          e .           g   i   o   a       n     r 
          s             u   r   .   q   m p i n   a 
          s             a           u   i a d ã   v 
          o             i   d       i   n r a o   o 
          ,             s   o       .   h a d .   s 
                        .               a   e 
                            l             s s     e 
                            a           e a ,     m 
                            b           x l     
                            i           i v       r
                            r           s á       e 
                            i           t -       i
                            n           ê l       s 
                            t           n a       . 
                            o           c ,       
                                        i
                                        a

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Conversa de Vó

- Come este pedaço de bolo!
                            -Não, vó, obrigado, mas eu não quero.
- Por que não?!
                            - Nada, só não estou com vontade.
-Mas está uma delícia!...
                            - Tudo bem, eu acredito que esteja mesmo, mas não quero agora, obrigado.
- Mas é de cenoura! Você não gosta?
                            - Gosto, só não quero comer agora, tudo bem?
- Mas você sempre gostou do meu bolo de cenoura!...
                            - Vó, eu continuo gostando do seu bolo de cenoura.
- Então por que não come?
                            (respira fundo...) - Porque eu não quero, vó. Porque eu não estou com vontade.
- Só um pedacinho prá experimentar. Garanto que se você provar vai querer outro.
                            - Nem outro, nem este. Não quero e pronto!
- O que você tem que está nervoso?
                            - NADA, vó. Me deixa. Não quero o bolo agora. Quando eu quiser, eu pego, tá?
- Você está estranho... está bravo comigo, nem quer meu bolo, fica gritando...
                            (respira muito mais fundo...) – Vamos fazer assim, daqui a pouco eu pego um pedacinho, tá?
- Se for pra comer empurrado, não precisa! Depois vai passar mal e a culpa é do meu bolo.
                            - Vó, pelo amor de Deus!... Não quero fazer desfeita... só não estou com vontade de comer nada agora... Tenta entender, por favor!...
- Por favor, por favor... Fazer um favor de comer meu bolo você não faz, né?
                            - Ah, desisto. Me dê cá um pedaço desse bolo. Já que não posso ter opinião própria mesmo, pelo menos vou te agradar.
- Ah, bom, assim está melhor. Mas espera esfriar então, que ainda tá quente e dá dor de barriga...

terça-feira, 25 de novembro de 2014

A leveza

                
Brumas que se movem sobre a superfície,
Dançante união dos três mundos de Escher,
Flutuando no sal que há demais no Morto.
O sal.               
                         
             Passos que flutuam sobre a areia clara,
             Elefantes que se movem nas pontas dos dedos,
             Abanando as orelhas aos ventos do sul.
             O sul.  
                         
                          Sombras que se apóiam nas copas das árvores,
                          Árvores ao vento, a balançar, fugazes.
                          Folhas que planam e secam sob o sol.
                          O sol.
                         
             Cores que se mesclam a dançar nas nuvens.
             Olhos que repousam sobre a sombra fresca.
             Asas abertas a siar no cio.
             O cio.  
                         
Nuvens que naufragam no azul celeste,
Horizonte de eventos de onde não há mais volta.
Almas de dois amantes a galgar o céu.
O céu.       

* Lendo A Insustentável Leveza do Ser  e ouvindo Michael Petrucciani

Ti Bianchini - 2001 


Michael Petrucianni foi um dos maiores pianistas da sua geração, mesmo tendo uma deficiência congênita que impediu o seu crescimento e que era conhecida como "síndrome dos ossos de vidro": ele chegava a quebrar ossos da mão ao tocar piano. Isto não o impediu de se consagrar como um dos grandes ícones do jazz nas décadas de 80 e 90. Morreu em 1999.