A Copa está ficando perigosa. Todos aplaudiram o pênalty marcado para o Brasil. Houve um consenso que “o juiz errou mas não temos nada com isso”. Não quero dizer que acho que houve compra de resultado (embora não possa afirmar o contrário, e a própria FIFA tem uma equipe de investigadores no Brasil para coibir essa prática). Vou me ater, pura e simplesmente, à encenação de Fred ao cair e pedir pelo pênalty – e, pior, a apontar para o céu e agradecer a Deus pela marcação.
Fico com a impressão de que, no futebol, vale usar de práticas condenáveis em todas as outras áreas da vida. Vale fingir, vale tentar enganar o árbitro, vale simular agressões para tentar a expulsão do adversário. Fico com a impressão de que, ao contrário de repudiar a atitude de Fred, o brasileiro médio vibra com a “esperteza”, com a “astúcia” do nosso atacante.
Precisamos parar de pensar no futebol como “Terra de ninguém”. Quando começamos a achar que o importante é vencer, que os fins justificam os meios, perdemos o direito de criticar os milhares de poderosos que nos passam para trás, que nos compram por um punhado de votos; perdemos o direito de nos indignar quando somos nós os prejudicados neste grande dia-a-dia da vida. Se Rivaldo não tivesse encenado uma agressão em 2002 ou Luizão não tivesse fingido um penal, não teríamos ganho aquela Copa? Então teria sido melhor não ganha-la.
É degradante para uma sociedade que se presume civilizada comemorar atos tão desonestos quanto o de Fred – e de Felipão, que concordou com a marcação. É vergonhoso, numa Copa que já nos dá muitas razões para vergonha, ver que o ídolo segue a mesma máxima do político: “A Justiça é uma injustiça praticada em meu favor”. Não quero ser representado, aos olhos do mundo, por um espertalhão; prefiro aplaudir a honestidade. O cidadão que aplaude a esperteza de Fred é aquele que não se importa de passar a perna no comerciante da esquina, que se sente orgulhoso por ter molhado a mão do guarda e se livrado de uma multa e que enfia no bolso o troco dado a mais, inadvertidamente, pelo caixa da padaria.
E eu, que achei que esta Copa já seria vergonhosa por tudo o que foi feito, nem imaginava que poderia me trazer vergonha pelo caráter do meu próprio povo...
Tiago Bianchini, 12 de junho, 2014
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