quinta-feira, 10 de julho de 2025

Felicidade pouca

Ela tinha medo.

Medo de ser feliz por inteiro por uma hora.

Medo de perder o pouco e insuficiente que tinha.

Medo de nada dar certo.


Ela tinha medo. 

Medo de atrapalhar, de não ser aceita, de não ser suficiente.

Medo de que a felicidade fosse contagiosa.

Medo de se entregar.


Ela tinha tanto medo

Que nem sequer cogitava uma aventura,

A plenitude de alguns momentos,

Sem compromisso, sem amanhãs.


Ela tinha tanto medo

Que, um dia, pensou que seria melhor

Afastar a felicidade que lhe batia à porta, insistentemente,

Calar os gritos que ecoavam dentro de si mesma.


Ela tinha medo. De quê? Não sabia.

E procurava razões lógicas para se auto-compreender:

A vida (não) tranquila que tinha,

O desejo (não) controlável que escondia.


O tempo foi passando, passando...

E o amor pouco já era tão pouco, que não incomodava

E o desejo intenso já era tão intenso que machucava

E tentar esconder já não estava mais funcionando.


O tempo passou, e, de repente,

Ela sentiu falta, tanta falta, de uma felicidade genuína,

Daquela de uma hora, pra desestressar, pra se sentir viva.

Daquelas pequenas sensações de que somos deuses.


Mas, então, já teria sido tarde:

Ele já havia sufocado todo o sentimento,

Já havia entendido que não teria chance

Já teria cansado de esperar em vão.


O que restou a ela foi a pequeníssima felicidade

Que não deixa de ser uma grande tristeza

Para o resto da vida.

Ecos de uma covardia consigo mesma.


Fingiu estar tudo bem, fingiu estar no controle.

"Outros virão", pensou, mas aquele

Aquele que lhe faria a felicidade ser plena

Já não era pleno para ela.


Felicidade pouca. Ela merecia mais.

Merecia ser feliz por completo.

Tentou ser, ao seu modo,

Pois já não lhe restava a plenitude.

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