terça-feira, 15 de julho de 2025

Aurora

O sol vem nascendo no horizonte.

O mundo e a vida clareiam

A paz e o silêncio permeiam

E eu estou aqui para olhar.


Hoje já sou mais feliz que ontem,

Meus olhos, insones, anseiam

Encontrar outro olhos, que, sei, hão

De me ver e me apaziguar.


Hoje eu vou ser feliz de novo,

Viver e sentir o universo

Fazendo planos a dois.


hoje vou conquistar o mundo

E, se ainda sobrar tempo,

escrever um soneto depois.

A Valsa

 

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Amor (im)Possível

 E se um dia, numa esquina:

"Oh! Você? Olá, menina!"

"Como vai? Você está bem?"

E me sorrires também,

E, assim, a brisa fina

Das paixões que vão e vêm

Nos será a heroina

De um romance ou algo além.


E se um dia, com esmero,

Te mostrar quanto te quero,

E o quanto podes ser minha,

Mesmo que não estejas sozinha!...

Acho que, sendo sincero,

Lembrarás do amor que tinha

E, nesse dia, eu espero,

Tornar-te-ás minha rainha.


Ah! Se um dia, um belo dia,

Te chamar com alegria

"Oi, sumida!", e você,

Aproveitar pra dizer:

"Há muito que eu queria

Contar que sua eu vou ser:

Não fique triste, sorria!

Nosso amor vai renascer!"


Ou, se um dia, o seu juízo

Lhe aconselhar, sem aviso:

"Não apague o seu ardor!

Vá atrás dele, onde for!"

Você sabe o que é preciso:

Me procure, por favor,

E me diga, com um sorriso:

"O que eu sinto é amor".



Mas, um dia, se pensar

Que ainda pode me amar,

Não se envergonhe: me chama,

Que eu corro pra sua cama!...

Mas, até lá, vou esperar,

Sem fazer, da vida, um drama,

E coma certeza singular

Que só se tem quando ama.

Amor (in)Condicional

 Amor (in)Condicional


Se fosse o que eu procuro

Se tu fosses mais maduro

Se a boca fosse maior

Se o hálito fosse melhor

Se o cabelo fosse escuro

Ou o olho de outra cor

Se não fosse isso, eu juro

Te daria o meu amor.

 

Se a viagem fosse pra longe,

Se eu não quisesse virar monge

Se meu namoro fosse aberto

Se o que sinto fosse certo

Se a coragem não me foge

Se a viagem fosse pra perto

Ah, meu bem, se não fosse hoje

Eu seria teu, decerto.


Se eu ficasse com saudade

Se eu tivesse vontade

Se o que eu sinto por ti

Fosse impossível não sentir

Se fôssemos da mesma idade

Se meu emprego permitir

Se eu te amasse de verdade

Já estarias aqui.


Se houvesse mais sentimento

Se fosse em outro momento

Se não fosse só paixão

Se não fosse o coração

Ou o tamanho do “documento”

Se fosse em outra encarnação

Sem as desculpas que invento

Serias uma opção.

 

Se não fossem tantos "ses"

Marido, mulher, bebês

Se eu fosse bi-homo-cis

Se fosse em outro país

Se fosse essa a nossa vez

Se fosse o que eu sempre quis

Talvez – e apenas talvez

Seríamos um par feliz.

sexta-feira, 11 de julho de 2025

FORA DO TEMPO

 

Imagine que você vive a vida que qualquer um poderia querer: é um ex-astro do rock, que fez fortuna com tecnologias revolucionárias e está prestes a fazer "o negócio do século" com uma multinacional... Mas, de repente, aquela vida perfeita que você planejou para si mesmo começa a desmoronar. Pessoas suspeitas irão fazer de tudo para roubar o grande invento que você criou. 

Mas... e se você pudesse passar a perna no tempo, dar uma voltinha no futuro e descobrir como essa história acaba?

FORA DO TEMPO é uma ficção científica que fala sobre música, tecnologia e viagens no tempo... E sobre nada disso! É um livro cheio de mistérios, tecnologia, música, referências pop e reviravoltas surpreendentes. O que esperar de uma mente genial, lutando desesperadamente pela própria vida?

Embarque nessa história... Enquanto há tempo.

Livro físico disponível em:

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E, apenas atualizando, também está em e-book na Amazon, para Kindle.

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Quem tiver o Kindle Unlimited, pode ler DE GRAÇA!...

Quem não tiver, pode adquirir o e-book por R$ 14,50.

E quem quiser ainda mais descontinho... Na plataforma Literunico, você pode comprar o físico por R$50,00 ( https://literunico.com.br/shop/product/23/fora-do-tempo ) ou o e-book por R$10,00 ( https://literunico.com.br/shop/product/12/fora-do-tempo )


quinta-feira, 10 de julho de 2025

Eclipses de uma Paixão

 (Sussurros à Deusa Noturna)


Ainda não sei se você é a Lua, inalcançável, ou o poema perfeito, algo que tenho dentro de mim, mas que não consigo externar. Talvez, seu nome seja apenas "Inspiração". De qualquer forma, é a você que este poema foi feito.


Eu nunca te vi, mas vi o que há de bonito e valioso em você. Momentos difíceis para ambos; carência mútua se abraçando no meio da tempestade.


E, de repente, começamos a nos comunicar numa linguagem que é só nossa.

Escrever é um gesto de entrega profunda — uma forma de deixar o outro morar dentro da nossa mente.

Não sei se o poema nos redime, mas sei que ele precisava existir.

Porque você existe.

E o que sinto também.

Não escrevo poemas — escrevo nós dois.



O corpo confirmou o que os poemas só arriscavam sussurrar.

Sem tocar sua pele, toquei partes de você que talvez nem você mesma tivesse deixado expostas.

Você viu beleza onde eu só enxergava o rascunho.

Leu entrelinhas que nem eu sabia que escrevia.


E foi assim, no silêncio de cada madrugada e no calor de cada provocação, que algo nasceu.

Algo real.

Poesia em carne viva.

Milhões de palavras ditas em silêncio.


Ah, o silêncio!...


O silêncio também é uma carta de amor.

Talvez a mais difícil de escrever.

Ainda nos falamos — só que agora os versos é que gritam.

Os poemas são as mãos que não se tocam mais.

As palavras, os olhos que evitam... mas continuam enxergando.


Você me amaria no silêncio? Na doença?

No cansaço do dia a dia?

No cheiro do outro depois de dez anos, e não no perfume da primeira noite?

Nos momentos em que não houver "química" nem "afinidade"?


Química não é sexo.

É quando o olhar diz "eu te entendo" antes de qualquer palavra.

É quando o "não posso" se transforma em "não consigo evitar".

É quando o corpo está pedindo o que a mente já permitiu.


E cá estamos nós: uma daquelas histórias que nascem para virar literatura.

Não porque é inventada —

Mas porque é intensa demais pra caber só na vida real.


Talvez o que mais precisemos não seja pressa, mas tempo.

Quanto?

Não sei.

Sei o que sinto.

Sei o que quero.

Sei o que posso.


E, quando os diferentes saberes apontam para direções diferentes...

Não há pressa.


Ah, o Tempo!...


Agonia prolongada até o eterno.

Resposta já dada, mas não consumada.

Alma dilacerada por saber que não se pode cobrar por uma decisão — mas que se morre a cada dia sem ela.


Tudo já foi dito, mas talvez ainda precise ser assimilado.

Quantas vezes poderemos mudar de ideia?

Todas as vezes necessárias.


Que você saiba que escolhas do passado podem ser revistas.

Que a decisão sempre será sua.

Que seu compromisso é com a sua própria felicidade, não com a felicidade dos outros.


Mas que, ao menos uma vez, você saiba que foi amada por alguém que viu quem você é — por dentro e por fora.


Com carinho.

Com desejo.

Com tudo o que há de sincero em mim.

Duas almas à beira do abismo

Não vou te pedir que venha.

Não vou forçar o passo, nem te puxar pela mão.

Mas quero que saiba: estou aqui.

E continuo inteiro.


Você pode estar tentando sufocar o que sente 

— e, ainda assim, sente.

Pode estar ensaiando a despedida 

— e, ainda assim, espera.


Pode estar fingindo 

que nada aconteceu —

mas as suas palavras não ditas 

ainda gritam por mim.


Eu vi você tremer no abraço.

Vi seus olhos fugirem dos meus,

como se evitassem cair…

e, ao mesmo tempo, como se quisessem se lançar de vez.


Você não me pertence.

E eu não quero que pertença.

Quero apenas que escolha — sem pressa, mas sem mentiras.

Com o coração que pulsa, não com o medo que trava.


Se for pra viver isso,

que seja com coragem.

Se for pra deixar pra trás,

que seja com verdade.


Só te peço que não finja que não houve.

Porque houve.

Ainda há.

Sempre haverá. Lide com isso.


E quando — se — 

você decidir pular,

não vai me encontrar 

te esperando na beira do abismo.


Vai me encontrar voando.

Com asas abertas.

Com amor inteiro.

Com espaço pra você.

Felicidade pouca

Ela tinha medo.

Medo de ser feliz por inteiro por uma hora.

Medo de perder o pouco e insuficiente que tinha.

Medo de nada dar certo.


Ela tinha medo. 

Medo de atrapalhar, de não ser aceita, de não ser suficiente.

Medo de que a felicidade fosse contagiosa.

Medo de se entregar.


Ela tinha tanto medo

Que nem sequer cogitava uma aventura,

A plenitude de alguns momentos,

Sem compromisso, sem amanhãs.


Ela tinha tanto medo

Que, um dia, pensou que seria melhor

Afastar a felicidade que lhe batia à porta, insistentemente,

Calar os gritos que ecoavam dentro de si mesma.


Ela tinha medo. De quê? Não sabia.

E procurava razões lógicas para se auto-compreender:

A vida (não) tranquila que tinha,

O desejo (não) controlável que escondia.


O tempo foi passando, passando...

E o amor pouco já era tão pouco, que não incomodava

E o desejo intenso já era tão intenso que machucava

E tentar esconder já não estava mais funcionando.


O tempo passou, e, de repente,

Ela sentiu falta, tanta falta, de uma felicidade genuína,

Daquela de uma hora, pra desestressar, pra se sentir viva.

Daquelas pequenas sensações de que somos deuses.


Mas, então, já teria sido tarde:

Ele já havia sufocado todo o sentimento,

Já havia entendido que não teria chance

Já teria cansado de esperar em vão.


O que restou a ela foi a pequeníssima felicidade

Que não deixa de ser uma grande tristeza

Para o resto da vida.

Ecos de uma covardia consigo mesma.


Fingiu estar tudo bem, fingiu estar no controle.

"Outros virão", pensou, mas aquele

Aquele que lhe faria a felicidade ser plena

Já não era pleno para ela.


Felicidade pouca. Ela merecia mais.

Merecia ser feliz por completo.

Tentou ser, ao seu modo,

Pois já não lhe restava a plenitude.

domingo, 29 de junho de 2025

Nunca tinha visto o mar

 

Nunca tinha visto o mar



Olhava para as imagens, impressas em preto-e-branco

De fotos maravilhosas que saíam nas reportagens

Dos cadernos de cultura que encartavam os jornais.

Papai dizia-me, com aquele sorriso franco,

Que já vira o mar, em suas viagens,

Que era lindo, e não o esquecera jamais.


E lá ficava eu, menino da roça,

Sonhando com aquele lago que não tinha fim:

Imaginando-o, verde, azul, de cor nenhuma;

Desejando vê-lo, pedindo sempre à Nossa

Senhora, mãe de Deus, que desse a mim

A chance de conhece-lo, de brincar em sua bruma.


E diziam que sua água era salgada,

Como a temperar os peixes que nele moravam;

E diziam que ele era tão fundo, mas tão fundo,

Que no fim da água não havia lodo nem nada,

E os navios displicentes que afundavam,

Afundavam, afundavam, até o outro lado do mundo.


Ah! O mar! Meu Deus, como eu queria

Poder olhar para ele, num dia de sol quente,

Com sunga e boia, e balde de areia!

E ficar ali, brincando, todo o dia,

E fazer castelos, e correr, e ver gente

E ter a alma, de felicidade, cheia!...


Papai me dizia que não tínhamos dinheiro:

“Mas, um dia, meu filho, você vai crescer

E vai enricar, e vai ser muito feliz,

E vai poder viajar o mundo inteiro,

E até o mar e a neve vai conhecer,

E vai viver e ser dono do seu nariz!”


Mas eu não queria esperar crescer, eu só pensava

Em ver o mar, em poder sentir o vento

Das tais “brisas marinhas”, no meu cabelo;

E papai, que sempre dizia que não dava,

Ao ouvir meu pedido e meu lamento,

E sofria por não poder atendê-lo.


Era a vida, não se pode ter tudo.

O Mundo gira, a Terra é redonda,

E flutua, solta, no Universo,

Tal qual o peixe no mar, e eu, miúdo,

Podia apenas imaginar como era a onda

Tão bem cantada por poetas, em prosiverso.


E assim ficava, em meus sonhos absorto,

Até que um dia, papai chegou com o riso aberto:

“Tenho uma carga importante pra levar

Lá pra São Paulo, e vou deixa-la no porto;

Façam as malas, fiquem prontos: se der certo,

Nós vamos todos lá pra praia, ver o mar!”


Naquela noite, não dormi, tamanha era

A excitação: íamos viajar, eu e meus pais

Na boleia do caminhão, de madrugada;

Finalmente, teria fim a minha espera:

Eu chegaria pela manhã à beira do cais.

Meu sonho estava ali, ao fim da estrada.


E, então, Deus, eu seria feliz por completo!...

Mas, na escuridão da rodovia, uma luz

Na direção contrária, veio nos pegar de frente:

Senti meu corpo ser jogado contra o teto,

O caminhão tombar, mamãe chamando por Jesus

E, num estrondo, tudo sumir de repente.


Acordei, um pouco tonto, em uma cama

de hospital, com talas e soro, entre lençóis.

Tudo doía, de uma dor que não se esvai.

E ao olhar em volta, e, depois, para a mamma,

Eu percebi, com dor e medo, que entre nós,

Faltava uma pessoa, e perguntei: “Cadê papai?”


Mamãe, então, contou-me o ocorrido…

Havia outro caminhão em sentido contrário

E papai fez uma manobra decidida:

E conseguira mudar o que certamente teria sido

A morte de nós três; e, solitário,

Apenas ele despediu-se desta vida.


Fiquei mudo, aturdido; tentei ser forte,

Tentei conter a dor no meu peito de menino

E entender como é possível tão cruel

Desfecho; papai abraçou a morte

Para nos salvar, e aceitou o seu destino

E foi mergulhar nos mares lá do Céu…


E dos meus olhos senti brotar tanta água,

Água salgada, a inundar meu peito ferido…

E fazer ondas de tristeza em meu olhar,

E, sem poder controlar meu choro e mágoa,

Sentindo a vida submersa, pensei comigo

Que era a primeira vez, enfim, que via o mar…


sexta-feira, 20 de junho de 2025

Prosa e Rima

Hoje há o silêncio das nossas risadas

O cromatismo sem tons das nossas imagens.

Hoje há o olhar constante para o celular,

Em busca de uma mensagem, de um sinal.


Um vício cortado.

Uma droga subtraída.

O peito apertado.

A vida, dorida.


Hoje não houve bons dias, houve ausências

Houve lembranças de brincadeiras de adultos

Mexendo com fogo e se queimando, sorrindo,

Lembranças de provocações não respondidas.


Vazio no ar.

A voz, calada.

A chama, sem brasa.

A alma, parada.


Compasso de espera, angústia do que virá

– Ou não virá jamais

Chamo? Ligo? Tento?

Ou apenas continuo me despedaçando, dia após dia?


Um nó na garganta.

Um adeus sem falar.

A ausência, gigante.

O sonho, a murchar.


Hoje houve o silêncio das últimas palavras

Que não mais dissemos;

Dando ponto final às últimas frases gravadas

No celular, que hoje é túmulo e esperança.


As frases, soltas.

As reticências,

Se acumulando

Na ausência.


Saudades da alegria da tua voz,

Vontades que não serão mais saciadas

Alegria de um tempo que foi,

Tristeza de outros tempos, que não virão.


Eternos amantes

Buscando o ideal,

Presos no instante

Da vida real


Milhões de segundos a esperar, esperar o nada.

Somos versos em rima e prosa, que se entrelaçam,

Mas, talvez, não tornarão a se encontrar.

Somos duas estruturas de poemas diferentes

Tentando separar a vida da obra.


Prosa e rima

Que não se encontrarão;

Tal é nossa sina:

Solidão.


quinta-feira, 19 de junho de 2025

Amar

Amar é bom

o tempo todo.


Mesmo que não seja real.

Mesmo que não esteja perto

o tempo todo.


Amar é bom

o tempo todo.


Ainda que não se possa

Ainda que não se sinta

Merecedor ou capaz.


Amar é bom

o tempo todo.


E quero sentir a cada momento

E quero ser teu mesmo não sendo,

E quero descobrir como é bom


Amar você

o tempo todo.

quarta-feira, 4 de junho de 2025

Carta Não Enviada

Então, é isso: te amo. Isso diz tudo.

E isso me faz livre, e me faz leve.

Agora meus sonhos serão, tarde ou breve,

feitos ou desfeitos. O Amor me é escudo.


É isso. Te amo. E isso me faz feliz.

E não me importa que não me vejas nem

Que me desprezes ou me trate qual um ninguém:

O Amor é meu. Sou eu. A mim condiz.


E te amo de um jeito quase mesquinho:

De um amor impossível e mal alimentado,

De um deixar crescer solto e não cuidado,

Como uma erva daninha selvagem pelo caminho.


Eu te amo mesmo sabendo que não devo

Te atrapalhar na sua vida bela e plena;

Para te proteger desse Amor, transformo-o num poema

E, para que ele transborde em mim, o escrevo.


E gosto desse amor, e de te amar,

E sinto a vida correr nas veias, qual

Suas risadas, seu sorriso matinal,

Que em devaneios motivam meu despertar.


O Amor é meu. Minha culpa. O meu fardo.

O guardarei para mim, e estarei contigo:

Nas brincadeiras e nos risos, seu amigo,

E, nos sonhos e no imaginário, seu bardo.


Meu amor será um rio em que teu quente 

corpo de vida real não se banha, mas podes ouvir,

Ao longe, suas águas murmurarem a fluir

No curso d'água que te umedece e refresca a mente...


E, sim, sou responsável pelo o que sinto:

Como uma papoula, cultivada em meu jardim,

Que entorpece e envenena somente a mim

Que me embriaga como o mais puro absinto.


E fazer-te sabedora desse amor não te faz presa;

Não é pra te fazer sofrer, a esmo:

É pra me fazer sincero comigo mesmo,

E assumir meu peso, e te dar leveza.


Mas meu amor... Ah, meu Amor!... Não vou matá-lo;

Vou cuidar dele e admirar seu crescimento 

Quem sabe, em breve, ele tenha seu momento

De se tornar o teu senhor ou teu vassalo...


E, assim, mesmo que eu jamais viva, então,

A alegria de ter você envolta em mim,

serei feliz, te vendo bem, porque, enfim,

Sei que não posso bagunçar seu coração.

domingo, 2 de março de 2025

Badinerie

As mãos estavam sobre as chaves e orifícios da flauta. A partitura, aberta à sua frente. Mas, em vez da alegria invadir a sala, restou o silêncio. Tentou soprar uma ou outra nota. Não, não eram essas. Jamais voltariam à sua mente.

 – Você precisa tentar, Amor. Toque aquela que eu gosto! – a amada insistia. Mas o flautista já não conseguia recordar. “Como é que se sopra essa porcaria?” Deve-se usar o “i” dos franceses, ele se lembrava, diga “o” com som de “i”, empurre o ar em ângulo, nada de ficar soprando como se fossem velinhas de aniversário. Assim lhe disseram na juventude. Mas agora já era velho, e, desde o derrame, não acertava mais essa embocadura. 

 – Sou um flautista senil e imprestável – disse, por fim, jogando a flauta sobre o sofá. – Aquela música, aquela música... Qual música era mesmo?

 – Ora, Amor!... Aquela assim – e sua amada assobiava como um colibri, enquanto dançava um Allegro com um par imaginário. – Espera!...

 Correu até a estante e achou a partitura.

 “Bach, J.S. - Badinerie”, ele lia no alto da página. Conseguia compreender todos os símbolos e anotações da partitura, conseguia ler como um nativo aqueles caracteres e barras, mas não conseguia fazer com que os dedos o seguissem.

 A amada murchou aos poucos. Tomando as mãos dele às suas, disse, condescendente:

 – O doutor disse que era importante, Amor. Ajuda com o Alzheimer. Ajuda com a coordenação motora pós-derrame. Vamos tentar de novo. – E, alcançando o instrumento no sofá, o devolveu ao dono.

 Novas notas perdidas ecoaram pela sala. Definitivamente, seus dias de música se foram. A amada, então, deu de ombros:

 – Se não quiser mais tentar... Que pena! Gosto tanto dessa música!

 Foram suas últimas palavras antes de tombar para trás, de olhos virados, e se desconjuntar sobre o tapete, entre a poltrona e a mesinha.

 Ele sorriu; achou que era uma inesperada brincadeira – “Badinerie”. Depois, o sorriso fugiu, tal qual a música, dos seus lábios rugosos. Enquanto o fino tubo metálico caía de suas mãos e rolava até se esconder sob a estante, correu a acudi-la. Era uma mulher já passada em anos, como ele. Não se lembrava muito bem dela, nem do seu nome, nem de onde a conhecera, nem de como estavam ali, a sós, como um casal. Talvez ela fosse alguém tão desconhecida quanto a canção que tentara entoar; sabia que deveria se lembrar de ambas, que ambas eram importantes, mas sua memória fugidia não lhe trazia mais as informações necessárias. “Badinerie” foi a palavra que lhe veio à mente. Sim, a senhora era Badinerie, e ele, Alzheimer.

 Naquele momento, no entanto, ela permanecia caída no chão, com ar moribundo e rosto pálido, e ele não sabia como ajudar. Abriu a porta de casa e gritou por ajuda. “Esta senhora desmaiou de repente, preciso saber se alguém pode...”, ele dizia para os dois ou três vizinhos de andar que, seja por altruísmo ou por curiosidade, ousaram abrir as portas.

 Ele ouvia coisas como “Meu Deus, ela teve um derrame!” e pensava: “Sim, sim, derrame, foi isso, ela me disse”. As ações alheias atropelavam sua tentativa de compreensão dos acontecimentos.

 – Vovô, sua esposa está mal. Precisamos correr para o hospital.

 – Sim, claro, mas me deixe pegar a minha blusa.

 Entrou na sala novamente. Olhou para o chão e achou que estava faltando algo ali, no tapete, entre a poltrona e a mesinha. “O que eu vim buscar, mesmo?”, pensou, antes de reparar na flauta sob a estante. “Oh, sim, é isso.”

 No caminho, enquanto os médicos procuravam reanimar a amada, ele tentava nova embocadura: 

 – Não lembro mais de como se faz isso, mas eu sei que conseguia, antigamente era ótimo flautista! – explicou para a enfermeira que, com olhar triste, lhe permitiu que continuasse tentando.

 Chegaram ao Hospital. A amada foi retirada em uma maca e levada para dentro, às pressas. Tubos e bolsas de soro foram espetados na sua pele fina e delicada. Ela não abria mais os olhos, aqueles olhos acinzentados que o flautista venerava quando jovem, sem que, agora, se lembrasse disso.

– Qual o nome da paciente?

 – Não sei dizer, doutor... – ele estava desorientado e amedrontado.

 – E o seu nome, o senhor sabe?

 – Acho que... não, não sei. Sei que estávamos conversando. Ela está aqui? Gostaria de retomar a nossa conversa, eu me preparava para tocar uma sonata para ela, sabe...

 – Doutor – outra voz se intrometeu na conversa. – Eu sou vizinho do casal, posso te dar as informações que precisa.

 Deixaram-no sozinho. Ele olhava para a flauta. “Pobrezinha”, pensou. “Se ela não tivesse tido esse mal-estar, talvez tivéssemos conversado mais, teríamos começado uma boa amizade, talvez até algo mais...” Ele olhava para os orifícios e para as chaves brilhantes e niqueladas, e não conseguia identificar onde estava o Ré nem o Si bemol. “E, mesmo que eu soubesse, a partitura não está aqui comigo, eu a esqueci em casa”. Decidiu que esse era o problema. Olhou para a menina do balcão e disse, com um sorriso de desculpas:

 – Imagine só, onde anda a minha cabeça! Esqueci a partitura em casa! Como posso tocar alguma coisa desse jeito? Ah, eu ando meio avoado, me perdoe!

 – Não se preocupe, senhor. O senhor pode tocar de memória... – a sugestão da jovem pareceu fazer sentido, mas o flautista não conseguia, de memória, posicionar os lábios pela fenda principal.

 – Senhor, sua esposa está muito mal. – interrompeu o médico, com gentileza. – Iniciamos o coma, mas acho que o senhor poderia ficar junto a ela... O senhor sabe, é hora de se despedir...

 E, agora, ele está ali, sentado em uma cadeirinha desconfortável, ao lado daquela mulher que repousa, cheia de tubos e bolsas de soro. Ela não parece sentir dor; lhe disseram que ela não sentirá mais nada e que não pode mais reagir. O aparelho ao seu lado apita insistentemente – monofônico, ritmado, inexorável.

 Ele sorri e se recorda:

 – Um metrônomo! Era isso mesmo que estava faltando.

 Empunha novamente o instrumento, e, dessa vez, o resultado é igual a todos os anteriores: um barulho de pneu vazando, nada mais. Ele sabe que aquela senhorinha merece, pelo menos, descansar ao som de uma música.

 Ele olha atentamente para o rosto da mulher, deitada à sua frente. “Olá, eu me chamo Alzheimer, e você deve ser a Badinerie. Bonito nome, senhorita. O que você faz aqui? Derrame? Ah, eu também! Não é uma agradável coincidência?...”

 Alzheimer. Derrame. De repente, tudo faz sentido.

 Seu sorriso se esvai com a percepção aterrorizante do que está acontecendo. “Como pude ficar alheio a tudo isso?”, ele se pergunta. Olha novamente para a mulher. É ela, é sua amada, é a mulher da sua vida. Não há mais esperanças!... 

 Ele se recorda, de chofre, da primeira vez em que a viu, de cabelos presos em uma trança loura na festa junina da igreja. Se recorda do primeiro beijo, depois do circo. Da formatura do curso de música – ela ao piano; ele, a acompanhando na flauta. Se recorda de mais de sessenta anos de amor e companheirismo. Se recorda, nota por nota, da sua música favorita.

 Arruma os seus cabelos e fecha, com cuidado, o avental sobre o seu dorso, para protegê-la de uma corrente de ar e dos olhares mais maldosos. Acaricia o rosto pálido e as pálpebras, que protegem aquele olhar que já não voltará mais a contemplar. Antes que sua memória se afaste novamente, ele precisa manter na mente que está diante dos dois amores da sua vida: um tubo metálico e um anjo de olhos cinzentos.

 – Amor!... – Uma lágrima escapa e, sorrateira, vai molhar o rosto da amada. Ele a enxuga com carinho. – Oh, meu Amor, lamento não ter te dado muito nos últimos tempos!... – mas não há tempo para chorar, nem para desculpar-se: é tempo de perdoar e deixar-se ir.

 Tempo. Bip-bip. Allegro.

 A flauta volta a lhe beijar os lábios. Os dedos, trêmulos, se posicionam novamente, como em todas as fracassadas tentativas anteriores. Ela merece um último esforço.

 A embocadura é perfeita. As notas saem e se espalham pela UTI - a princípio, tímidas e hesitantes, mas, após um ou dois compassos, brilhantes, vívidas, imponentes. A melodia de Bach preenche os espaços e as almas vazias, os dedos correm pelos orifícios e chaves e o flautista, ao lado da amada, dança um Allegro sozinho, esbarrando vez ou outra nos equipamentos próximos. Termina a suíte com uma fermata, acompanhando o metrônomo improvisado, e lança uma última olhada para o rosto inerte à sua frente.

 E, então, o rosto que ele se acostumou a contemplar durante toda a vida faz seu derradeiro movimento, e sorri, como a lhe dizer “Muito obrigada pela música!”, poucos segundos antes de o bip-bip do metrônomo tornar-se um apito contínuo.


Conto vencedor do 2⁰ Concurso Aline Alencar - 2024, com o tema: "O Som do Amor"