Acabaram os
meus poemas;
Este talvez
seja o último.
Para um
poema é necessária a inspiração.
Não quero
mais me inspirar.
Não tenho
mais em quem me inspirar.
Amores
bem-resolvidos nunca me deram inspiração,
Eles já
estão resolvidos e não há mais nada que se falar.
Amores não-correspondidos
é que são a fonte,
E, para
eles, os poemas ajudam a recolocar as ideias no lugar,
Os poemas
nos servem de ensaio para o que queríamos dizer
E nunca
poderemos fazê-lo.
Não tenho
amores resolvidos.
Não tenho
mais os não-correspondidos.
Nem quero
tê-los.
Agora tenho
não-amores
E estes são
péssimos inspiradores de poemas.
Portanto
este será o último – e o pior – dos meus.
E se, um
dia, me vier um amor arrebatador,
Virá pra
ficar enfim, e não precisarei mais deitar ao papel
Palavras bonitas
ou feias.
E se, um
outro dia, este amor arrebatador me ferir,
Joga-lo-ei
fora antes que ele produza
Palavras de
uma mente doentia.
Não haverá
mais poemas, nem belos, nem sujos, nem bobos.
Não os
quero mais, posso lidar sozinho comigo mesmo.
Posso me
livrar das ideias sem ter que manchar páginas; não é justo com o papel
Ter que
ficar com minhas mágoas e anseios e desejos e derrotas.
Não preciso mais de poemas,
Preciso viver.
Não preciso mais de poemas,
Preciso viver.
Perdi uma
inspiração que me acompanhou por décadas.
Não porque
ela foi embora daqui,
Não porque
ela fugiu da minha vida,
Não porque
ela decidiu algo que não se decide sozinho;
Mas porque
ela saiu de mim.
Foi embora
de dentro de mim
E em seu
lugar encostarei alguns móveis velhos, alguns quadros não-pintados,
E
reaproveitarei os espaços que, após tantos anos, já nem lembrava que tinha.
Perdi a
inspiração para sempre, e, mesmo que ela voltasse,
Não seria
mais minha inspiração,
Não seria nunca
mais algo que eu pudesse venerar.
Amores
saudáveis não carecem de poesias.
Amores
saudáveis carecem de vida, carecem de companhia, de proximidade,
Carecem de luz.
Carecem de luz.
Era um
poeta de olhos fechados,
Era um
poeta platônico a olhar a parede e me deliciar com as sombras
Mas sombras
não têm defeitos.
Abri os
olhos.
E vi um
mundo de cores e luzes e escuridão,
E vi a beleza da imperfeição de cada poro de um rosto entrando em anos
E pude
sentir todas as angústias e desejos reprimidos, e medos,
Que se
escondiam por trás destes poros, deste rosto.
E minha
veneração pelas sombras, minha adoração pelo ideal
Esvaiu-se
como um perfume que o ar não consegue reter.
Esta era
minha inspiração: sofrer por amor, sofrer por não tê-lo; sofrer, enfim.
Mas já
passou.
Não há amor
que mereça meus sofrimentos, não há amor que mereça
Que eu
entregue a minha vida por duas ou três palavrinhas
Rimando e
pulando de uma linha a outra num papel pautado.
Acabou,
este é meu último.
Um poema sem
graça, sem rimas, sem métrica,
Feio de
olhar e de ler, que nada diz a não ser a mim,
Inútil como
os outros milhares que já compus.
Um fim
melancólico para um poeta que nunca foi
Que nunca
fui.
Que não
mais serei.
E, apesar
de ter total controle sobre as palavras que aqui vão,
‘Inda
levarei a agonia de não conseguir impedir
Que meu
último poema termine com a palavra amor...
15.11.2014
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