Escrevam, malditos dedos nervosos!
Escrevam, vão legar ao papel todas as minhas angústias e mágoas,
a fim de que todos saibam
por quantas e tristes ladeiras caminha meu coração!
Andem, vermes da existência, delatores a sofridão humana,
escorreguem pela pena a me denunciar,
a me humilhar de novo e de novo e de novo;
vão tentar gravar no papel o que o coração não fala.
Páginas seriam escritas;
livros e livros seriam completados,
se me valesse a pena,
se me resolvesse os problemas;
mas o fato é que ainda tenho que conviver com eles todos,
a me jogar na cara a minha incompetência de ser feliz.
Fosse apenas escrever e ver as coisas mudarem,
vá lá: faria de bom grado;
mas o deitar de frases ao papel
apenas traz-me ao peito mais e mais dor.
Afinal, é o que somos:
restos de choros antigos,
angústias disfarçadas por uma bela aparência exterior,
que, às vezes, até conseguimos dissimular mais ou menos bem.
No mais, nada somos,
reles criatura humana,
pecado mortal do Criador, ao último e exaustivo dia de trabalho.
Quando muito, apaixonados somos;
e destes não há o que se falar,
a não ser da profunda miséria
em que cairão, um dia, os seus toscos corações.
Mas o coração não fala;
apenas bate, às vezes,
por algúem que lhe não dá a mínima.
Outrora feliz, esbarra
no mais ignominioso muro da verdade:
ninguém é, nesta vida,
feliz por muito tempo.
Não, o coração não fala;
já por demais sofre,
este pobre músculo involuntário;
já padece deveras de auto-cura,
para os seus ferimentos tão profundos
de toda uma vida.
Deixemo-lo descansar quieto,
no fundo do peito;
esqueçamo-nos dele,
para que, assim, ao menos,
seja sua dor diminuída.
Tiago Bainchini - 2000
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