quinta-feira, 1 de maio de 2014

O Adeus do Campeão

(tragédia em dois atos)

ato 1: A Vida

Quem conhecer, que me fale
De tamanha injustiça;
Já nem sei se a vida vale
Uma curva, numa pista:
Um mito, um gênio, um herói
Que levou ao posto primeiro
Um orgulho tão brasileiro
Que, se hoje, de lembrar dói,
Outrora, quando vencia,
O mundo todo aplaudia;
E agora chora em silêncio,
Com lembrança e agonia,
Tal momento derradeiro.

Um mito - jamais visto
Exemplo de um desportista;
Pelo mundo inteiro tão quisto
Por fazer por sobre a pista
Tantos momentos de glórias,
com recordes, pódios, vitórias,
E nossa bandeira à vista.

Que hoje, a meio-pau,
Encerra em grande final
O show do notável artista.

  
ato 2: A Morte

A morte nem sempre é o fim
Às vezes também pode significar o começo
O começo de um mito;
O maior, através dos tempos,
E por toda a eternidade.
Ayrton
Conseguiu, com sua genialidade,
Levar com glórias o nome Brasileiro
E fazê-lo soar, soberano,
Por todas as partes do mundo.
Se o Brasil hoje é respeitado,
No contexto automobilístico,
É porque um dia surgiu um Émerson
Um Piquet
E um mito
Ayrton Senna
E não só estes, como também Pace
E Hoffmann.
E o gênio correu
Além dos limites do homem,
Como fizera outras vezes,
Como ninguém jamais conseguiu
E nem ousou.
Como Prost cem surgiram,
Como Fangio, outros cem;
Como Lauda, mil venceram,
Como Clark, talvez vinte;
Mas como Senna ninguém
Foi tão ousado e veloz.
Bateu em primeiro lugar
À frente dos que pensavam
Que o podiam superar;
A morte, não esperada,
Não fez efeito na sua
Vasta carreira de glórias.
Que pena!
Nunca mais veremos o Nome Brasileiro
Figurando majestoso no primeiro prêmio
Como tantos outros,
Ingleses, italianos, franceses;
Como Rindt, Niki Lauda,
O mestre Fangio e Jim Clark
Tiveram que se curvar
Diante da habilidade,
Perícia, técnica e arrojo,
Do mito, do Grande, do Gênio
Que pena!
Os GPs ficam  mais tristes
Os carros ficam mais cinzas,
E as vitórias, mais mortas.
As cores dos capacetes,
E dos carros, estampados,
Dão hoje lugar ao negro
Do luto de todo o mundo,
E dos pesares  de Ímola
O autódromo negro
Que acabou vencendo o invencível,
Que vive, apesar da morte,
Para sempre na memória.

Senna
Que Deus o abençoe
Assim como sempre o abençoou
A trezentos quilômetros por hora,
Em todas as vezes que você fez, numa pista,
A tua vida
Sobre quatro rodas, e às vezes três,
Como Villeneuve;
Vá em paz, meu campeão,
Encher os olhos de Deus
E dos anjos, fazendo acrobacias fantásticas
Por sobre uma pista linda,
Sem muros, nem mortes,
ã frente de Gilles Villeneuve,
À frente de Jim Clark,
Jochen Rindt, Ronnie Petterson,
E Stirling Moss.
Vá em paz, meu tri-campeão,
E deixa que aqui na Terra
Nos encarregamos do choro,
Da saudade, e da tristeza;
Suba, Senna, como um anjo, aos céus,
Que daqui de baixo
Ninguém vai esquecer o mito
O mago.
O único.
Nada substitui o talento.
Nem o ídolo
Nem o humano.
Nem mesmo a morte.
Adeus, meu eterno campeão
Vele por nós, Ayrton.
E acelere. Sempre. 
  
Tiago Bianchini - 02 de maio, 1994.

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