Ela sai em disparada de um lado ao outro; encontra seu destino nos pés dele. Tão logo a Deusa agarra-se às suas chuteiras, seu férvido olhar lança-se sobre o primeiro. Avançam juntos, a Deusa e o Gênio, como um puma ao atacar, com uma semelhança magistral: agora quem ataca é Ele. O primeiro tenta inocentemente lhe roubar a Deusa. Ele a desliza por entre os dedos, por entre o arco-íris invisível que pinta de vermelho e preto o céu do Maracanã. Abraça a Deusa no manto rubro-negro de sua armadura, como a envolvê-la em seu coração por todos os séculos e séculos; enfim, permanecem juntos. Estende-se o tapete verde para que os dois passem, em velocidade, puxando, assim como Hércules, todos os olhares, em uma única direção. Como uma flecha atravessam juntos a selva de pernas, de adversários, de inimigos. Ante ao segundo, traz a Deusa de um pé ao outro, de um lado ao outro do mesmo pé, contorna o corpo e segue a arrancada.
Alcançam a área. Puxa para um lado, vai para o outro, traz a Deusa na ponta dos dedos, abraça-a com os pés, joga-a na frente e retoma-a em menos de um milésimo de um segundo: não conseguem manter-se separados por tanto tempo. O Arqueiro, como uma águia, mergulha nos pés do Gênio, disposto a tudo, até à morte, para ter o domínio da bela Deusa. E o que é a morte, afinal, ante os sôfregos Espíritos rubro-negros que fazem do Gigante Maracanã um berço ínfimo de um recém nascido?... O gol é tudo, é mais que a morte e mais que a vida.
O Gênio puxa a Deusa para seu lado; dá-lhe um bico, um carinhoso biquinho e a arremessa naquele mísero espaço que o Arqueiro, por distração ou por impossibilidade, não foi capaz de cobrir; a Deusa perambula sozinha, como a ter vida própria, e só repousa no manto alvo e macio da rede do Maracanã. Um canto do Gigante se cala, o restante pula e grita, como se parisse o mais adorável ser: o Gol, que como o Gênio e como a Deusa, é mais que tudo, mais que a vida e mais que a morte.
Eis que o Gênio cumpriu a sua promessa secreta para com a Deusa, a bela Princesa que teimou ao sair do aconchego de seus pés: “Vais, minha eterna amante. Vais encantar o Mundo, encher os olhos de Deus e dos Espíritos que regem o futebol. Já não mais precisas dos meus rumos; tens a liberdade de poder seguir o teu próprio caminho, em direção ao Gol. E lhe juro solenemente que não a esquecerei um instante sequer, nestes milhões de milésimos de segundo que estivermos distantes, nem procurarei o abrigo de outras deusas. Vais, até o Gol, o maior dos prêmios, a mais bela das homenagens, o Gol, enfim, que é o Tudo: é a Vida e é a Morte. Vais, minha amada, encher os olhos de Deus!...”
E mal sabia o Gênio que, no entanto, era ele quem encantava o Mundo, enchendo os olhos de Deus e dos Anjos Rubro-Negros...
Tiago Bianchini Fidalgo - 07.08.1.997
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