- Responda, violino,
onde vais tocar,
Assim, deste jeito, a
nos deixar sem fala?
- Minha pobre viola, subirei no altar
E serei o centro, e serei o spalla!
- Mas, diga, violino: o
que vais tocar
Para alegrar esta manhã
triste?
- Meu súdito cello, tocarei eu Bach
E tocarei Mozart, e tocarei Liszt!
E serei xodó de Vivaldi, e tanto
Que ele, a mim, confiará sua primavera;
E despertarei, ao mundo, tal encanto,
Que haverão canções como nunca houvera.
Mas tu, minha irmã, se isto a consola,
Tu nunca serás, nesta vida, spalla;
Nem nunca terás, singela viola,
Nem frase e nem palco onde possas tocá-la.
Ao passo que tu, meu simplório cello,
Jamais saberás o que é estar à frente;
E nem o que é puro, e nem o que é belo,
E não sentirão tua falta, se ausente.
Mas, eu, terei sempre os portões abertos
E receberei de todos as palmas
E emprestarei meu nome a concertos
E tocarei solos, e tocarei almas.
- Pois quanta
arrogância há no teu agudo!
Meus graves jamais gostariam
de sê-lo;
Voz esganiçada! Antes
fosses mudo!
Saibas tu que muito me
orgulho em ser cello!
- Teu grande defeito –
deves percebê-lo! –
É teu timbre tosco, que
cansa e que amola:
Minha voz é um veludo,
e, tal como o cello,
Também eu me orgulho em
ser uma viola!
Agora vai, anda! Vai
tocar teu Bach!
Estoure as suas cordas,
meu caro menino!
Pois sem nossa ajuda,
ninguém ouvirá
O som fraco e tosco
d’um reles violino!
Tiago Bianchini - 2004
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