domingo, 24 de novembro de 2013

A Batalha do Nunca

Já não aceito mais este choro de perdão,
Esta cara deplorável de piedade,
Esta máscara indizível do coração
Para ofuscar a falta com a verdade;
Já não suporto mais este falar com jeito,
E esse medo de ferir, e essa pena,
E este excesso excessivo de respeito
A despeito deste olhar, que me condena.

Já não mais quero, desta vida, me livrar;
Aceito os golpes que a mim são desferidos:
E apesar deles tenho que me levantar,
É a obrigação de um pinheiro decidido.
E nunca mais quero ter que implorar:
Prefiro desistir, parar, morrer;
Não são os outros que me devem ajudar:
Somente eu, apenas eu, devo vencer.

Já me levaram as sete vidas - e o que sobrou?
Restos de um sonho, que começou na hora errada...
E que não tem final previsto, não acabou,
E sabe-se lá se sobreviverá até o fim da madrugada...
Não sou nada; nada sei, e nem mereço
Esta dádiva que a vida me dá - a própria vida:
Melhor assim: pois não preciso do apreço
Daqueles que nunca me ajudarão na minha lida.

Não quero mais esta mão de caridade;
A mesma mão que me mataria, se pudesse;
Não quero que por mim peçam piedade,
Não quero que por mim me roguem em prece;
Nem quero que comigo se preocupem à toa,
Quero que cuidem de suas próprias vidas;
Quero errar, se preciso for, e mesmo que doa
Quero encontrar por mim mesmo minhas próprias saídas.
E não preciso de ninguém - somente de Deus
Desde que eu seja o comandante do navio;
Pois se for Ele, então serei mais um dos seus,
E não serei mais que um cão vadio.
E ainda quero que Deus olhe meu caminho,
Para que Ele, com seus próprios olhos, veja
Que eu vou saber e aprender a andar sozinho
Que meus pés me guiarão onde quer que seja.

Desta vida, não quero uma lágrima sequer:
Sei que posso me afogar nela; e apesar
Dos ossos da selva que terei que roer,
E dos castigos que na mata eu encontrar,
Hei de sair, ainda, de rosto erguido,
E olhar prá frente, sorridente, triunfante:
E dirão todos que fui sábio ou desabrido,
Mas que a guerra não fez jus ao seu infante.

Estou pronto para perder os meus receios,
E a ganhar na marra o direito de ter meus ideais;
De ter minhas vaidades, meus devaneios,
E de ter, enfim, a minha preciosa paz;
Não quero depender de ninguém,
E, se depender, não quero que me dêem a mão,
Para depois me abandonar ao frio que vem
Dos invejosos, arruinar o meu verão.

Apenas quero viver - certo ou errado -
Mas, antes de tudo, e depois de tudo,
Dar meu toque pessoal ao tão sonhado
Sucesso; A vida é um grandioso estudo,
De onde aprendemos a matéria, que nos vaza
E, de aprender o caminho do fracasso,
Apreendemos a manha da lição de casa.
Pois é: esta lição eu mesmo faço.

Portanto cale-se: da vida não sabes nada
- ou talvez saiba como não vivê-la -
E nada tens a me ensinar - mudas a cada
Lua, a cada maré, a cada carta, a cada estrela,
E continuarás em metamorfose constante
Até que, de repente, numa noite sombria,
Se encontre dentro do casulo, e neste instante,
Abra as cores de suas asas ao novo dia.

E até lá, eu espero; e observo
E, apesar de gostar muito de você,
Eu deixo que te matem, e me preservo
Para estar ao seu lado quando você aprender a viver.

Tiago Bianchini, 1998

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