Já não
aceito mais este choro de perdão,
Esta
cara deplorável de piedade,
Esta
máscara indizível do coração
Para
ofuscar a falta com a verdade;
Já não
suporto mais este falar com jeito,
E esse
medo de ferir, e essa pena,
E este
excesso excessivo de respeito
A
despeito deste olhar, que me condena.
Já não
mais quero, desta vida, me livrar;
Aceito
os golpes que a mim são desferidos:
E
apesar deles tenho que me levantar,
É a
obrigação de um pinheiro decidido.
E
nunca mais quero ter que implorar:
Prefiro
desistir, parar, morrer;
Não
são os outros que me devem ajudar:
Somente
eu, apenas eu, devo vencer.
Já me
levaram as sete vidas - e o que sobrou?
Restos
de um sonho, que começou na hora errada...
E que
não tem final previsto, não acabou,
E
sabe-se lá se sobreviverá até o fim da madrugada...
Não
sou nada; nada sei, e nem mereço
Esta
dádiva que a vida me dá - a própria vida:
Melhor
assim: pois não preciso do apreço
Daqueles
que nunca me ajudarão na minha lida.
Não
quero mais esta mão de caridade;
A
mesma mão que me mataria, se pudesse;
Não
quero que por mim peçam piedade,
Não
quero que por mim me roguem em prece;
Nem
quero que comigo se preocupem à toa,
Quero
que cuidem de suas próprias vidas;
Quero
errar, se preciso for, e mesmo que doa
Quero
encontrar por mim mesmo minhas próprias saídas.
E não
preciso de ninguém - somente de Deus
Desde
que eu seja o comandante do navio;
Pois
se for Ele, então serei mais um dos seus,
E não
serei mais que um cão vadio.
E
ainda quero que Deus olhe meu caminho,
Para
que Ele, com seus próprios olhos, veja
Que eu
vou saber e aprender a andar sozinho
Que
meus pés me guiarão onde quer que seja.
Desta
vida, não quero uma lágrima sequer:
Sei
que posso me afogar nela; e apesar
Dos
ossos da selva que terei que roer,
E dos
castigos que na mata eu encontrar,
Hei de
sair, ainda, de rosto erguido,
E
olhar prá frente, sorridente, triunfante:
E
dirão todos que fui sábio ou desabrido,
Mas
que a guerra não fez jus ao seu infante.
Estou
pronto para perder os meus receios,
E a
ganhar na marra o direito de ter meus ideais;
De ter
minhas vaidades, meus devaneios,
E de
ter, enfim, a minha preciosa paz;
Não
quero depender de ninguém,
E, se
depender, não quero que me dêem a mão,
Para
depois me abandonar ao frio que vem
Dos
invejosos, arruinar o meu verão.
Apenas
quero viver - certo ou errado -
Mas,
antes de tudo, e depois de tudo,
Dar
meu toque pessoal ao tão sonhado
Sucesso;
A vida é um grandioso estudo,
De
onde aprendemos a matéria, que nos vaza
E, de
aprender o caminho do fracasso,
Apreendemos
a manha da lição de casa.
Pois
é: esta lição eu mesmo faço.
Portanto
cale-se: da vida não sabes nada
- ou
talvez saiba como não vivê-la -
E nada
tens a me ensinar - mudas a cada
Lua, a
cada maré, a cada carta, a cada estrela,
E
continuarás em metamorfose constante
Até
que, de repente, numa noite sombria,
Se
encontre dentro do casulo, e neste instante,
Abra
as cores de suas asas ao novo dia.
E até
lá, eu espero; e observo
E,
apesar de gostar muito de você,
Eu
deixo que te matem, e me preservo
Para
estar ao seu lado quando você aprender a viver.
Tiago Bianchini, 1998
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