Eu
quero ir para o inferno;
O céu
não é lugar para mim
-
montes de anjinhos a voar como besouros e a tocar lira –
Paz
demais, bondade demais para um ser imundo como eu.
O
inferno é mais merecedor dos meus préstimos:
Ali,
quem sabe, eu me sinta menos insignificante
E,
certamente, terei muitos conhecidos para me fazer companhia
E
proliferar nossas maldades, pois, afinal, estaremos no inferno.
O
inferno de Dante é empolgante; o seu paraíso, morno e tosco;
Não
quero estar num lugar onde serei eternamente cobrado
Onde
me exigirão decência, dignidade, amor
E
todas essas coisas inacessíveis a um ser humano.
O que
acrescentaria eu ao céu? Em que minha presença agradaria a Deus?
Contaria
minhas anedotas? Julgaria o Sistema? Oras, estamos no paraíso!
Fui
cara-pintada, imprimi folhetins comunistas, incitei revoltas de classe
Tive
ideais demais para ser considerado um santo.
Vivemos
num mundo de pessoas perfeitas, Pessoa:
Nem eu
nem você deveríamos ter vindo para cá.
No
inferno que é este Paraíso, cheio de virtudes e boas-intenções,
De
pessoas sempre boas e sem-pecado que acham que irão para o céu.
Sim,
Pessoa, iremos para o inferno:
Mas,
antes disso, seremos lembrados:
Aqueles
que tiveram a ousadia de ser humanos na vida
Ir
para o céu? – Deus me livre!
Tiago Bianchini - 2001
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