domingo, 24 de novembro de 2013

O que Há

Já não há mais poemas;
Há a simples constatação de estar aqui.
Há a penúria de mais detalhes; e estar sem ti
Já serve de motivo para todos os temas.

Já não há mais beleza;
Ou, por outra, nada é mais belo do que nada:
As coisas simplesmente diferem; tu, minha amada,
Não é maior que uma vadia nem menor que uma princesa.

Já não há mais poemas:
Qual a razão de trovar o que já criou Deus?
Tudo já existe: as loucas madrugadas, os lábios teus,
Todas as respostas e todos os novos dilemas.

Já não há mais melodia:
Qual o som ainda não soprado? Qual a essência
Da flauta dos anjos? Não; não há ciência
Que a tudo não explique, e não há, portanto, poesia.

Já não há mais nada;
Mais nada: nada vale a pena
Nem teu olhar escuro, nem tua pele morena,
Nem teu cabelo solto nem tua boca molhada.

Já nada mais há – mas... não temas:
As palavras moram sob os meus cabelos
E ainda há espaço para os mais belos
Poemas.


Tiago Bianchini - 2005

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