Eis o
trato: fico eu; tu é que vais embora
- Já
estava aqui antes de apareceres,
Como um mar para Neruda – y quedarse hasta ahora;
Y desde entonces soy porque tu eres...
Mas
por amor não mais seremos – E ora chora!
Antes
sumisse por mil anos, tal como Ceres,
Antes
morresse de uma vez, como Lenora!
Mulheres!...
Fostes
sempre meu tudo – du gabst mir alles
Erhabner
Geist – geniosa criatura;
Deste-me
rios, terras, planaltos, vales,
Deste-me
o amor, na sua mais pura
Expressão.
Mas não sou teu, e nunca fales
Que me
tens, como quem guarda uma escultura:
Amor
com possessão – onde há mais males
Que a cura.
Queres
ir, vai: direito é teu. Omnia certis
Fico
eu e meus anseios, como for.
Mas
não comove-me a água que dos olhos vertes:
Ah,
não; não sabes nada do amor...
Qual
um corvo, ensaio-te milhões de arrivedercis
E, na
falta de repetição melhor,
Deixo teu
nome em meus lábios, quase inertes:
-
Nevermore.
Mas o
corvo só remeda; o corvo e o lôro.
Eu não
– eu penso! E sofro tanto
Que,
ao invés de desprezar-te, te devoro.
Tão
monstruosa és, que o meu encanto
Por ti
não morre; traumerei, flor del oro
E em
devaneios te encarcero; por enquanto
Canto
meus sonhos de amor por cada poro:
Esperanto.
O
corvo não responde – Pöe estava errado!
O
corvo repete! Não entende de amor!
Não
sabe o que diz! Mas eu, de outro lado,
Je veux changer mes pensées en oiseaux!
E, se não
queres ficar comigo neste estado,
A porta está aberta; y sin pudor,
Yo seré un ruyseñor en su sagrado
Chateau.
Verdade:
amo-te, sim. Ma non è vero
Que
choro. Se tal ocorrer, algum dia,
Serrarei
meu peito, e o coração, qual Nero,
Jogarei
ao fogo, qual Roma, que ardia;
Riscar-te-ei
da minha vida em desespero
E
chutar-te-ei qual uma pedra – media in via
Omnia
et sun finita – não te quero!
Omnia.
Mas te
amarei, seja num templo ou bordéu.
Queres
ir, vai. Abre a porta. Sai.
Seguirei
com juras de amor, amor ao léu
Because my love is like a desert soul in the sky.
Lira sin pulso ya, como es tu piel;
Seguirei
até chegar de encontro ao Pai,
Que,
então, fará com que eu entenda esta Babel
Ormai.
O
momento já não existe – nem é completa
A tal
felicidade - injúria vã!
Fatal
o erro de Cecília, a poeta.
O
momento passará – tout se fait avec le temps –
Io no
aspetto mai il cuore di questa maledetta!
Pois
de esperar já me cansei; e o amanhã
Não
chegará jamais: paciência é para o profeta
Gibran.
Que
pensas que me amas; um amor terno...
Que
queres me prender – pero no merezco
Que me
surjas num sonho e me leve ao inferno,
Guiando-me
como um Virgílio dantesco,
E, nel mezzo del cammin, em pleno inverno,
Lasciarme al fuoco, come fa un arabesco
Que,
inacabado, não virá a ser o eterno
Afresco.
E amor
assim, desculpe: passe outro dia;
I’ll not need it when you are gone...
Pois passarás; en mis sueños, tu vendría
Así, como un recuerdo de mi corazón
E
dir-me-ei de ti: - “fosti una bugia”...
Estarei,
então, com outra, a par le monde,
- Amor
é primo da morte, já dizia
Drummond.
Já não
esperava Cristo a traição de Judas?
Deixes
de lado esta falsa lealdade.
E nem
queiras me comprar com alguns Nerudas
- Tan corto amor y largo olvido – Piedade!
Deixa-me
dormir, deixa-me mudar, já que não mudas
“Ya no la quiero, es cierto”. Esta é
a verdade:
Teus
lábios não dançam mais – palavras mudas
A
nadie.
E não
me venha com carinhos, enredando-
-Me na
sua manta de Nesso – não chores à toa!
Pois
já te vi inúmeras vezes chorando
E esse
ar de humildade a ti destoa.
Que
valeu o amor a Adônis, já sangrando?
Antes
Vênus tivesse ficado na lagoa...
Nem
tudo vale a pena – tolo Fernando
Pessoa.
Amores
tortos houveram, desde a Antiguidade:
Perséfones,
por alguns grãos de romã,
Ficou
presa no Inferno, junto a Hades.
Sempre
houve um rei e uma cortesã.
Mas
amor como o nosso, nem Mário de Andrade
Ousou
imaginar – tu, uma barregã,
Em São
Paulo ou qualquer outra cidade
Canaã.
És
livre. Vai; faze tuas leis.
Queres
ir, vai. É teu último ato.
Mas eu fico – Here I’ll stay, and always
I’ll remember... Fosti tu chi non avere amato!
E eu,
se não puder fugir à dor dos reis,
Provar-te-ei
que ficar não cabe ao rato.
Abre a
porta e sai, se queres: eis
O
trato.
Tiago Bianchini - 2003
P.S.: Assim que tiver tempo, vou inserindo todas as referências bibliográficas deste poema.
Por estrofes:
ResponderExcluir1. a-) Pablo Neruda, Cem Sonetos de Amor, LXIX
b-) Ceres - divindade romana (em grego: Deméter)
c-) Lenora - amada de Edgar Alan Poe em O Corvo
2. parte em alemão: Fausto, de Goethe
3. 4. e 5. O Corvo - E.A.Poe
5. a-) C. Marot, citado nas Falenas, de Machado de Assis
b-) Federico Gar ía Lorca
6. a-) Nero - imperador romano
b-) Drummond, citado em latim
7. a-) Emily Dikinson
b-) Llagas de Amor, Garcia Lorca
8. a-) Motivo - Cecília Meireles
b-)Ditado popular francês, extraído de Baudelaire
c-) O Profeta - Khalil Gibran
d-)citação vertida para o italiano de Álvares de Azevedo
9. a-) A Divina Comédia - Dante Alighieri
b-) Parte em inglês: adaptado de E. Dikinson
c-) Garcia Lorca, citado em espanhol italiano e francês
d-) As Sem Razões do Amor - Drummond
11. Neruda, Neruda, Nerua. E Bíblia
12. a-) Nesso: centauro mitológico.
b-) Adonis e Vênus: mitologia grega.
13. a-) Perséfones e Hades: mitologia grega
b-) Tu - Mario de Andrade
14. Lord Byron
Acho que estão todos aí... não sei...