terça-feira, 26 de novembro de 2013

Alma


A alma é a noite, como a noite é bela,
E veste de negro o vão firmamento;
A noite é a graça, a garça singela,
Que voa e que vaga, e que beija o vento.

A noite é a alma, e a alma, a alma,
É o sonho dourado da vã poesia;
E é poesia o pranto que acalma,
Como é sentimento a garça que pia.

A alma é a garça; a garça é o sonho,
O sonho dourado da vida que cala;
A alma é a vida, o amor que proponho
Do fundo do berço onde a vida me embala.

A alma é o sonho, o sonho é o dia,
E o dia é a Lua, que a noite consola;
E a Lua é  aquela que, na noite fria,
Lhe rouba a magia, e lhe traz a aurora.


A Lua é a Lua, a Lua, a Lua,
Que brilha a maré, e que faz uivar
O lobo, na noite pela qual flutua
E brilha, e queima, e paira no ar.

É a alma, enfim, a vida perdida
Nas páginas brancas que escondem o trauma
De ter, entre o sonho, a Lua e a vida,
A noite, a garça, o vento e a alma.

Tiago Bianchini - 1997

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