segunda-feira, 25 de novembro de 2013

A Flauta

Epílogo 1: uma breve impressão

Vi uma abelha entre os canteiros floridos
Sugando o mel dos jasmineiros gotejantes;
Ao céu, voavam colombinas sibilantes:
Eis que a menina traz-me novos coloridos.

Cabelos negros, e soltos, e compridos,
Sorriso aberto, olhos pequenos e brilhantes;
Tinha uma flauta entre os lábios vacilantes,
Da qual soprava agudos longos e sentidos.

Que queres, pobre anjo em forma de menina,
A saltitar e ressoar o teu flautim?
Ou pensas tu que a flauta é mais doce e fina

Do que o mel que a abelha suga do jasmim?
Ora, é Deus quem canta pela colombina;
Deixai que elas assobiem no jardim!




Epílogo 2: Outra breve impressão


Trazes uma flauta, a alegrar meu dia,
A inspirar-me a leve e sutil melodia,
A encantar-me mais que mil liras de Orfeus.

Menina da flauta, quão doce é tua sina!
A soprar a brisa casual e fina
Afinando notas sopradas por Deus;

Trazes uma flauta, a te beijar os lábios,
Doce instrumento dos deuses e dos sábios
Sabe os segredos dos suspiros teus;

E ao tocar a flauta, tocas minha alma;
E teu soprar leve me envolve e me acalma
A soprar-me a vida; a levar-me aos céus.


Epílogo 3: A Flauta




Doce;
            Que fosse a vida bela como o teu semblante,
            E a todo instante dir-te-ia, doce fada,
            O quanto és amada por este tolo infante.
            Tão radiante és tu, musa adorada.
            Que nada houvesse, no meu escuro penar,
            Que, ao soprar agudo da tua boca leve,
            Tão breve fosse iluminado, a brilhar
            Qual teu olhar, casto e puro como a neve.

Leve;
            Qual deve ser, enfim, o mais lírico canto,
            Qual acalanto pode me trazer o sonho
            Do teu risonho murmurar, com tal encanto
            Vívido e santo – dize-me, e eu o componho!
            Ah, quão tristonho e tosco é este coração!
            Quisera a mão de Deus lhe dar amôres tais...
            Matinais beijos em teus lábios, ou, então,
            Rosa em botão, a enfeitar-te ainda mais!...

            Ah! Minha vida, quando muito, é tão vazia!...
            Não há poesia para quem de amor padece:
            E apenas cresce-me o desejo de que, um dia,
            Me sejas guia, Anjo Moreno, e ouvis minha prece
            E que eu pudesse trocar a dor da tua falta
            Pela mais bela pauta que jamais compôs-se;
            E que me fosse assim, soprada, qual uma flauta
            Qual uma incauta e delgada flauta doce. 

Leve e Doce.



Tiago Bianchini Fidalgo
2005

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