Epílogo
1: uma breve impressão
Vi uma
abelha entre os canteiros floridos
Sugando
o mel dos jasmineiros gotejantes;
Ao
céu, voavam colombinas sibilantes:
Eis
que a menina traz-me novos coloridos.
Cabelos
negros, e soltos, e compridos,
Sorriso
aberto, olhos pequenos e brilhantes;
Tinha
uma flauta entre os lábios vacilantes,
Da
qual soprava agudos longos e sentidos.
Que
queres, pobre anjo em forma de menina,
A
saltitar e ressoar o teu flautim?
Ou
pensas tu que a flauta é mais doce e fina
Do que
o mel que a abelha suga do jasmim?
Ora, é
Deus quem canta pela colombina;
Deixai
que elas assobiem no jardim!
Epílogo
2: Outra breve impressão
Trazes
uma flauta, a alegrar meu dia,
A
inspirar-me a leve e sutil melodia,
A
encantar-me mais que mil liras de Orfeus.
Menina
da flauta, quão doce é tua sina!
A
soprar a brisa casual e fina
Afinando
notas sopradas por Deus;
Trazes
uma flauta, a te beijar os lábios,
Doce
instrumento dos deuses e dos sábios
Sabe
os segredos dos suspiros teus;
E ao
tocar a flauta, tocas minha alma;
E teu
soprar leve me envolve e me acalma
A
soprar-me a vida; a levar-me aos céus.Epílogo 3: A Flauta
Doce;
Que fosse a vida bela como o teu
semblante,
E a todo instante dir-te-ia, doce
fada,
O quanto és amada por este tolo
infante.
Tão radiante és tu, musa adorada.
Que nada houvesse, no meu escuro
penar,
Que, ao soprar agudo da tua boca
leve,
Tão breve fosse iluminado, a brilhar
Qual teu olhar, casto e puro como a
neve.
Leve;
Qual deve ser, enfim, o mais lírico
canto,
Qual acalanto pode me trazer o sonho
Do teu risonho murmurar, com tal
encanto
Vívido e santo – dize-me, e eu o
componho!
Ah, quão tristonho e tosco é este
coração!
Quisera a mão de Deus lhe dar amôres
tais...
Matinais beijos em teus lábios, ou,
então,
Rosa em botão, a enfeitar-te ainda
mais!...
Ah! Minha vida, quando muito, é tão
vazia!...
Não há poesia para quem de amor
padece:
E apenas cresce-me o desejo de que,
um dia,
Me sejas guia, Anjo Moreno, e ouvis
minha prece
E que eu pudesse trocar a dor da tua
falta
Pela mais bela pauta que jamais
compôs-se;
E que me fosse assim, soprada, qual
uma flauta
Qual uma incauta e delgada flauta
doce.
Leve e
Doce.
Tiago Bianchini Fidalgo
2005
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