domingo, 24 de novembro de 2013

As seis cordas



A primeira corda: recorda-me o soprano
Canto de esperança de uma alma vazia
Que se ilude numa cadência de engano.

A segunda corda: transborda a agonia
De um amor mezzo acabado; a realidade
É mais pesada e opaca, sem tua alegria.

A terceira corda: acorda esta saudade
De uma época dourada e de um amor
Liso e contralto, sol sobre a tempestade.

A quarta corda: que morda-me esta dor
De quem, um dia, sonhou com a doçura
Do brado de um coração, vivo e tenor.

A quinta corda: a cor da tessitura
Das mais ávidas e delirantes paixões:
A se perder na solidão barítona e dura.

A sexta corda: a maior das ilusões:
O despertar de um sonho, grave e baixo,
A dedilhar a dor aos violões.

Tiago Bianchini, 2005
P.S.: Explicações técnicas do poema nos comentários.

Um comentário:

  1. a. Rimas cruzadas entre as estrofes: a linha 2 da primeira estrofe rima com as linhas 1 e 3 da segunda, e assim por diante.
    b. as três sílabas após "corda", em cada estrofe, produzem rimas internas: reCORDA-me, transBORDA, etc.
    c. Há seis indicações de vozes musicais em cada estrofe, da mais aguda à mais grave: soprano, mezzo, contralto, tenor, barítono e baixo. Não necessariamente são utilizadas para descrever as cordas do violão.
    d. Há mais coisas escondidas no poema. Não vou dar tudo de graça.

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