A
primeira corda: recorda-me o soprano
Canto
de esperança de uma alma vazia
Que se
ilude numa cadência de engano.
A
segunda corda: transborda a agonia
De um
amor mezzo acabado; a realidade
É mais
pesada e opaca, sem tua alegria.
A
terceira corda: acorda esta saudade
De uma
época dourada e de um amor
Liso e
contralto, sol sobre a tempestade.
A
quarta corda: que morda-me esta dor
De
quem, um dia, sonhou com a doçura
Do
brado de um coração, vivo e tenor.
A
quinta corda: a cor da tessitura
Das
mais ávidas e delirantes paixões:
A se
perder na solidão barítona e dura.
A
sexta corda: a maior das ilusões:
O
despertar de um sonho, grave e baixo,
A
dedilhar a dor aos violões.
Tiago Bianchini, 2005
P.S.: Explicações técnicas do poema nos comentários.
a. Rimas cruzadas entre as estrofes: a linha 2 da primeira estrofe rima com as linhas 1 e 3 da segunda, e assim por diante.
ResponderExcluirb. as três sílabas após "corda", em cada estrofe, produzem rimas internas: reCORDA-me, transBORDA, etc.
c. Há seis indicações de vozes musicais em cada estrofe, da mais aguda à mais grave: soprano, mezzo, contralto, tenor, barítono e baixo. Não necessariamente são utilizadas para descrever as cordas do violão.
d. Há mais coisas escondidas no poema. Não vou dar tudo de graça.